terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Coletivo de Entidades negras

http://cenbrasil.blogspot.com/
Essa Matéria Estudo do Catimbó foi uma forma de ampliar o movimento informativo sobre o Catimbó Jurema, tem muitos trechos que vão ser questionados por muitos e por mim também, mas precisamos compreender que a Jurema Sagrada é muito ampla e recebe muitas influências e conhecimentos tradicionais de várias regiões do Nordeste.
Desejo uma boa leitura e uma ótima avaliação.
Estudo do Catimbó

Este sítio foi composto em sua maior parte com textos originalmente escritos para ele e, também por textos que foram compostos e retirados à partir dos livros indicados na bibliografia. Também existem modificações e adições nos textos reproduzidos baseado na própria experiência co o Catimbó. Não existe aqui a intenção de plagiar os autores e sim de compilar um material significativo sobre o Catimbó para ser usado através da Internet.
Recomendo fortemente que quem quiser conhecer o Catimbó que adquira os livros da bibliografia bem como procure assistir ao Catimbó. Lembre-se que não existe uma linha doutrinária única e que os Catimbós podem diferir muito entre sí.
Gostaria de aproveitar para comentar sobre a questão da busca do conhecimento formal, escrito ou estruturado sobre assuntos religiosos. Este assunto foi brilhantemente abordado no livro Guerra de Orixás e é importante que todos reflitam sobre este aspecto, de modo que vou usar os próximos parágrafos para comentar sobre isso.
Muitas pessoas ligadas a Umbanda e Candomblé, principalmente os sacerdotes e dirigentes são muitos críticos em relação a busca de informação escrita, como se isso fosse uma coisa menor. Não o é. É simplesmente uma manifestação danosa e negativa de preconceito e que nada ajuda a religião.
Misericordiosos e misteriosos são os caminhos de Deus que permitem que pessoas humildes, simples e às vezes analfabetas funcionais, através de sua mediunidade e destes cultos, conseguem realizar trabalhos grandiosos. Por vezes encontramos pessoas responsáveis por casas de santo que julgaríamos temeroso estarem encarregadas tão tão grande responsabilidade, seja sob o ponto de vista administrativa como também teológico.
Mas os guias os fazem capazes de desempenhar com brilhantismos esta missão. Entretanto nem todo o conhecimento advém dos guias ou da mediunidade e nem todo o conhecimento é saber de roncó ou pejí. Existe o saber ligado ao conhecimento de histórias, origens, ética, valores e fundamentos que precisam ser entendidos para que não se tenha em uma casa um batalhão de zumbís que obedecem ordem sem saber porque.
A cultura escrita teria salvado muitas religiões no passado e servido para melhor divulgar as atuais, como o Candomblé (que adquire atualmente força nos livros), a Umbanda, o Catimbó e outras. Certamente o Catolicismo não seria o mesmo sem a bíblia e as escrituras e não foi a existência dela que a fez uma fé menor, pelo contrário permitiu que outras correntes e interpretações existissem.


Autoria deste sítio



O que é afinal o CATIMBÓ ?

O Mito, o preconceito e o erro na definição
Entre muitos que freqüentam terreiros de Umbanda e Candomblé, Catimbó é sinônimo da prática ou seja da macumba em sí. Para outros, de Umbanda, trabalhar no Catimbó está associado ao uso de forças e energias de esquerda ou negativa. Esta é uma visão equivocada. Qualquer prática mágica pode ser usada com qualquer finalidade, mas, o objetivo do Catimbó é a evolução dos seus Mestres através do bem e da cura. Se o mal é feito, isto pode ocorrer pelo erro do medium ou pela necessidade de justiça a quem pede.
Catimbó é de base religiosa catolica e não afro-brasileiro
O Catimbó é uma prática ritualista mágica com base na religião católica de onde busca os seus santos, óleos, agua benta e outros objetos litúrgicos. É também uma prática espirita que trabalha com a incorporação de espíritos de ex-vivos (eguns ou egunguns) chamados Mestres e é através deles que se trabalha principalmente para cura, mas também para a solução de alguns problemas materiais (como a Umbanda) e amorosos, mas, é importante destacar que a prática da cura é a principal finalidade.
Não se encontra no Catimbó, nas suas práticas e liturgias os elementos das nações africanas de forma que classificar o Catimbós como uma seita afro-brasileira é um erro. Mestres não se subordinam a Orixáe fora o aspecto de que certamente ele é, também, praticado por Negros não existe outra relação direta com a religião africana.
Para aqueles que consideram o Catimbó afro-brasileiro eu apenas pergunto: Onde estão os elementos
Afro-brasileiro?
De fato a mitologia e teogonia do Candomblé é rica e complexa, a do Catimbó é pobre e incipiente, seja porque a antiga mitologia indígena perdeu-se na desintegração das tribos primitivas, na passagem da cultura local para a cultura dos brancos, que estavam dispostos a aceitar os ritos, porém não os dogmas pagãos, na sua fidelidade ao catolicismo - seja porque o Catimbó foi, mais, concebido como magia do que como religião propriamente dita, devido sobretudo aos elementos perigosos e temíveis e às perseguições primeiro da igreja e depois da polícia.
Além dos dogmas da religião católica o Catimbó incorpora componentes europeus como o uso do caldeirão e rituais de magia muito próximos das praticas Wiccas. Tanto dos europeus como dos brasileiros o uso de ervas e raízes é básico e fundamental nos rituais. Cada Mestre se especializa em determinada erva ou raiz.
Não existe Catimbó sem santo católico, sem terço, sem agua benta, sem reza, sem fumaça de cachimbo e sem bebida, que pode nem sempre ser a Jurema (como eu disse Catimbó não é o Santo Daime).

Origem do Catimbó

O Catimbó é, sem duvida nenhuma, de origem índia. Sem voltar às descrições antigas da pajelança e aos primeiros contatos entre o catolicismo e a religião dos índios, inclusive àqueles fenômenos de “santidade” que conhecemos tão bem através das informações do Tribunal do Santo Ofício, sem tentar traçar a genealogia histórica do Catimbó, encontramos ainda hoje entre o
puro índio e o homem do Nordeste toda a gradação que nos conduz pouca a pouco do paganismo do Catimbó.
O Catimbó de hoje é o resultado desta fusão da prática pagã inicial dos índios com o catolicismo sobre o qual construiu a base da “ religião” . É impossível dissociar o Catimbó do catolicismo e de outras tradições européias, provavelmente adquiridas dos holandeses, mesmo após as influências que recebeu do Candomblé e do kardecismo.
Podemos considerar que a mesma falta de força étnica que fez com que os índios fossem antropologicamente sobrepujados por outras culturas fez com que o Catimbó perde-se a sua identidade índia original (pajelança) e adquirisse os rituais importados de outras práticas religiosas mais “fortes”. Neste caso contribuiu muito a falta da cultura escrita que fez com que na medida em que os próprios índios eram extintos a prática religiosas Xamanista fosse sendo perdida ou diluída.
Entretanto do Xamanismo original foram preservadas as ervas e raízes nativas como base de todos os trabalhos e na prática da fumigação com fumaça de cachimbos e fumos especialmente preparados o elemento mágico de difusão.
Para o índio, o fumo é a planta sagrada e é a sua fumaça que cura as doenças, proporcionando e êxtase, dá poderes sobrenaturais, põe o pajé em comunicação com os espíritos.
Os primeiro elementos do Catimbó que devemos lembrar é o uso da defumação para curar doenças, o emprego do fumo para entrar em estado de transe, a idéia do mundo dos espíritos entre os quais a alma viaja durante o êxtase, onde há casa e cidades análogas às nossas. A grande diferença é que a fumaça na pajelança é absorvida, enquanto no Catimbó ela é expelida. O poder intoxicante do fumo é substituído aqui pela ação da jurema.
O Catimbó se desenvolveu diferentemente no interior e no litoral, nas capitais. As influências de outras práticas religiosas mais fortes em cada um deste locais acabam determinando o formato do Catimbó. Podemos dizer que quanto mais para o interior mais simples ele será devido a menor influência das religiões africanas.


A RAIZ RELIGIOSA AMERÍNDIA
O CATIMBÓ

Em continuidade no tempo, foi da fusão destes novos cultos de Caboclos Encantados com os primeiros aportes isolados da religiosidade dos negros Bantus, quase sempre escravos fugitivos que encontraram guarida e proteção na Pajelança e no culto dos Encantados, que esboçou-se o Culto do Catimbó, mas no qual, agora, as cerimônias perdiam o sentido de função social da coletividade para transformarem-se em cultos individuais de satisfação de necessidades pessoais quer de índios, negros ou mestiços, ainda que de natureza espiritual, curativa ou de ligação com os antepassados de todas as etnias.
Exemplificando a mudança de tais funções, ouça-se o triste depoimento de um velho Pajé, de nome Tarcuáa, que assim se lamentou com um pesquisador : -" Hoje não há mais Pajés; somos todos Curandeiros"- (Roger Bastide, "apud" Câmara Cascudo, em "Novos Estudos sobre o Catimbó", Brasiliensis, pg. 89).

A Mitologia

Usando uma mitologia e ritualismo bem empobrecidos, os "altares" do Catimbó representam a perda de valores iniciáticos dos indígenas brasileiros, que passam a ser substituídos pela miscigenação religiosa e apresentam, lado a lado, estampas e estátuas de santos católicos, charutos, aguardente, pequenos arcos e flechas, flautas e chocalhos indígenas, além de ervas e animais secos, objetos que são portadores dos poderes da força mística indígena "Mana", da "Benção" Católica e da "Mandinga" Banto, pois que o "Ase" Sudanês ainda não havia aportado no Brasil.
Mas, embora tenham abandonado o pó de tabaco insuflado diretamente nas narinas para obtenção do transe místico, ainda existia a lembrança de seu uso ancestral como "erva sagrada", através dos "charutos" e da "Princesa": nos altares do Catimbó estava a "Princesa", uma cuia de cobre ou vasilhame raso de barro, a qual sempre repousava sobre um "rolo de fumo", o qual era cercado por um pano branco que nunca tinha sido e nem nunca seria usado para outra finalidade, como a atestar sua pureza e santidade.
O conjunto denominado por "Princesa" constituía-se na ligação com o passado indígena, pois era nela que era moída e infusa a raiz da árvore "Jurema", uma bebida levemente alucinógena que então induzia a descida dos "espíritos" invocados para provocar o transe mediúnico, ainda chamado de "Estado de Santidade".
Os negros bantos-congoleses aceitaram esta nova concepção religiosa, sobretudo, em termos de "culto aos mortos", pois os Pajés e os Catimbozeiros, através dos Maracás e das Cunhãs, dos Encantados, do Petun e da Jurema, quiçá agora também da "Diamba" introduzida pelos africanos, comunicavam-se com o "Além", ou seja, o lugar místico e/ou mítico em que os brancos, os índios, os negros e os mestiços de todos, igualmente situavam a existência de seus antepassados.
Desta adaptação do negro fugitivo ao novo meio ambiente, até por ser a única opção, nasceram, de acordo com a maior ou menor negritude de seus participantes, as variações de cultos miscigenados indígenas-cristãos-africanos, tais como o "Toré", o "Tambor de Minas", o "Babassuê" e o "Batuque".
Entretanto, era o Catimbó já prenunciava a futura "Umbanda", apresentando-se dividido em "Sete Reinos Espirituais" : "Vajucá", "Tigre", "Canindé", "Urubá", "Juremal", "Josafá" e "Fundo do Mar".
E, note-se bem: seus principais Espíritos-Chefes são indigenas brasileiros : "Itapuã", "Xaramundy", "Muçurana", "Iracema", "Turuatã", as "Moças d'água" ou "Yaras" e somente muito mais tarde, aparecem alguns "espíritos" isolados de "catimbozeiros" de descendência africana: pai Joaquim, etc.
Mana, Axé e Benção
Mestre Piron

A RAIZ RELIGIOSA AMERÍNDIA



O "TUYABAÉ-CUAÁ E A SANTIDADE"


A Sabedoria dos Pajés Ancestrais de Pindorama - o Tuyabaé-Cuaá - estudada por De Bry, Hans Staden e Padre Simão exprimia-se numa linguagem sagrada - o Nheengatu -, a "língua boa". Entretanto, ela reconhecia que existira uma língua matriz muito mais antiga - a Abanheengá - tão antiga, diziam ainda os Pajés, que "somente Tupã, o Deus Supremo, poderia tê-la ensinado à raça mais antiga de toda a Terra", ou seja, aos seus antepassados".
Os Tupis-Guaranis adoravam, pois, a um Deus Único Supremo - Tupã - mas reconheciam a existência de uma Trindade Manifestadora do Poder Divino - Guaracy, Yacy e Rudá -, simbolizando o Poder Gerante, o Poder Gestante e o Poder Gerado, admitindo ainda a existência de um Messias Civilizador - Yurupari - gerado pela Virgem Mãe Chiucy.

Desta forma, tinham uma divisão entre os ritos dos clãs masculinos (Tembetá), dos clãs femininos (Muyraquitan) e dos ritos para os seus antepassados, entre eles o do Guayú (evocação dos espíritos ancestrais), quando os seus Xamãs - os Payés - entoavam um canto lento, ritmado, repetitivo e de efeito hipnótico ao som de seus Mbaracás (chocalhos), aplicando-os depois à testa das Cunhãs (mulheres profetizas), que então entravam em transe mediúnico e passavam a comunicar as mensagens dos Ra-Angás, os Espíritos de seus Antepassados.
Este antiquíssimo conjunto de crenças Tupi-Guarani foi detectado e conhecido pela Ordem Católica dos Jesuítas que, sobre ele, pode estabelecer um programa de evangelização dos indígenas nos primórdios da colonização do Brasil, baseado em três pontos principais :
1 - a aceitação destes valores espirituais ancestrais nativos Tupã, Guaracy, Yacy, Rudá e Chiucy, mas trocando-lhes os nomes para "Deus Pai", "Santíssima Trindade" e "Virgem Maria";
2 - o combate sem tréguas contra aos valores mais radicalmente opostos aos dos ocidentais, tais como a autoridade dos Payés, o rito espirítico do Guayú, com seus Mbaracás mediunizantes e suas Cunhãs profetisas;
3 - transformar o Messias Civilizador Yurupari numa contrafacção do "Diabo".
Um dos resultados paralelos dessa catequese cristã foi o aparecimento do primeiro sincretismo religioso brasileiro - o indígena-cristão -, o qual desenvolveu-se dentre os descendentes dos indígenas espoliados na medida que viam naufragar a cultura de seus ancestrais e que muito pouco lhes era dado em troca para substituí-la : a "Santidade".
A Santidade foi um movimento messiânico de caráter nitidamente indígena, baseado no ressentimento contra os brancos invasores, fazendo uso de um Cristianismo mal digerido do qual adotaram a construção de "igrejas'; um simulacro de "batismo"; chefes masculinos e femininos denominando-se por "Pai" e "Mãe de Deus"; uso de procissões, rosários e cruzes.
Isto tudo de mistura com valores da cultura indígena, como a poligamia, cantos e danças indígenas, mas cujo ponto principal ainda era o uso do Petun (Tabaco) como "erva sagrada", tradicionalmente insuflado nas narinas do oficiante, na forma de "rapé" (pó torrado das folhas secas) até que ocorresse o transe místico, o qual era chamado, precisamente, de "Espírito de Santidade".
Combatido pela Inquisição Católica já à partir de 1534, o sincretismo indígena-cristão da "Santidade" originou um novo culto - a "Pajelança" -, o qual revivia sobretudo os antigos rituais indígenas de cura, o dos seus Ra-Angás (Antepassados) e, agora, um outro dedicado aos "Espíritos da Santidade". Esta mixagem de conceitos religiosos indígena e cristão - o Tuyabaé-Cuaá, a Santidade, a Pagelança - passa a ser considerada o primeiro sincretismo religioso ocorrido nas Américas.

Mana, Axé e Benção
Mestre Piron


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Estrutura do Catimbó

Organização da casa

A organização de casas de Catimbó é muito simples, tão simples como as pessoas que o organizam e frequentam. Possivelmente é esta simplicidade que o faz tão fácil de ser entendido e tão forte mesmo em lugares onde existem terreiros de Candomblé, Xangô ou Umbanda.
No Catimbó o gongá é substituído por uma mesa, literalmente uma mesa, sendo que eventualmente estas pode ser o próprio chão do local. Nesta mesa estarão colocadas as princesas e principes com os fundamentos de cada Mestre. Esta mesa poderá conter
algumas imagens, principalmente de santos católicos. Não é o padrão os mestres serem representados por imagens em profusão como na Umbanda. Catiçais de vela são essenciais, assim como os cachimbos dos mestres.
A mesa poderá estar em um local central, no caso de os trabalhos serem em volta da mesma, mas normalmente estará em uma
posição de destaque, mas nas extremidades da sala.
O resto do espaço liturgico é aberto e não existe separação entre os discípulos, os mestres e a audiência de frequentadores. As pessoas se misturam com todos e existe um acesso informal dos mestres com os frequentadores. Normalmente os discípulos se
colocaram em círculo, fazendo a roda da Jurema, cantando e dançando junto com os mestres e os convidados em volta. Na medida em os mestres forem "virando" eles vão estar no centro o Roda ou conversando com os vistantes em volta.

Hierarquia

No alto da organização existe o Mestre principal, o mais poderoso de todos e que é responsável pela casa. Como toda casa tem um dono o mesmo ocorre no Catimbó. Abaixo deste encontraremos os discípulos-mestres que já estão desenvolvidos e trabalham com seus mestres com seus cachimbos consagrados. A seguir estarão os demais discípulos em estágio de desenvolvimento, com ou sem o seu cachimbo.
O processo de desenvolvimento é gradual, mas, não segue as rígida estrutura de liturgias de Xangôs e Candomblés. Os mestres irão se acostar nos discípulos na medida em que quiserem e o discípulo irá aprendendo com seu Mestre na medida do seu desenvolvimento. O poder mágico é lentamente obtido e mais de um mestre poderão trabalhar com cada discípulo.
Um discípulo será tão importante quanto forte seja o seu Mestre nos trabalhos e cura e ajuda aos frequentadores e também o quanto de poder e magia este mesmo discípulo tenha no trabalho não incorporado através do seu cachimbo. O trabalho no Catimbó pode ser feito sem a incorporação e os discípulos desenvolvidos devem ter a capacidade de invocar o trabalho mágico dos seus mestres sem estes estarem acostados. Esta é a medida do poder e força de um discípulo.

Elementos e Liturgias

Mesa de Catimbó

Dentro de toda a simplicidade do Catimbó a Mesa representa a concentração de energias. Sua
representatividade está entre um altar de igreja e um gonga de Umbanda, sem, como sempre no Catimbó, se ligar diretamente com um ou outro.
A mesa não é apenas um local de trabalho mas o altar onde estaram os objetos liturgicos e os
assentamentos dos mestres. Não existe um padrão e a sua organização e limpeza será tanto quanto for a do responsável pela casa. Ela tanto pode ser um local limpo com toalha branca e poucos e bem colocados apetrechos de representação como também um local saturado dos fundamentos da Jurema.
É nas mesa que estarão representados os mestres, as cidades e os estados, através dos principes e
princesas. Em locais rurais onde existe terreno e espaço os mestres terão o seu assentamento em arvores ou arbustos, geralmente de ervas que tenham ligação com o seu fundamento.
Nesta caso o Catimbó em sua essência se assemelha com o Candomblé onde, na áfrica os Orixás são
assentados nas arvores, que são chamadas de Atim do Orixá. No Catimbó é o mesmo, assim como também, na falta de espaço e mata, o assentamento dos mestres é resolvido da mesma forma.
Nos centros urbanos, principalmente, em função da falta de espaço nos locais de culto, troncos da planta são assentados em recipientes de barro e simbolizam as cidades dos principais Mestres das casas. Esses troncos, juntamente com as princesas e príncipes, com imagens de santos católicos e de espíritos afro-americanos, maracás e cachimbos constituirão as mesas de jurema. Chama-se mesa o altar ao qual são consultados os espíritos e onde são oferecidas as obrigações.
A mesa deverá estar enfeitada com flores e velas acesas e não é excepcional se encontrar resplendores de Igreja na mesa em função do profundo envolvimento do Catimbó com o catolicismo.
Uma mesa simples seria coberta por uma toalha bem branca que sempre deve ser mantida limpa. Sobre ela, ao centro deve-se colocar o estado ou reino que representa o mestre da casa. À frente dela cruzados os cachimbos de direta e esquerda do Mestre principal da casa. Atrás do estado deve ser colocada uma vela grande que deve permanecer acesa todo o tempo bem como podem ser colocadas algumas imagens de Santos católicos. É importante um rosário feito de lágrima de nossa senhora sobre esta mesa envolvendo ou contrornando o estado, vela e principais imagens.
Da mesma forma não vejo de bom axé colocar bebidas de cachaça por sobre esta mesa. Eventualmente as princesas podem conter a bebida, mas a garrafa inteira não é de bom tom. Deve-se manter uma outra mesa ou estante para colocar as bebidas, fumos e charutos que serão consumidos pelos mestres. Debaixo da mesa deve ser feito o assentamento da casa com o tronco de Jurema preta especialmente preparado.

Cantigas do Catimbó

Defumação

Defumar 1

Senhores mestres
mê de licença
eu quero ver
João da Mata defumar.

Cortando Catimbó em malefício
jogando pra cimá de quem mandar.

Defumar II

Eu defumo é com as ervas da
jurema
mas eu defumo é com arruda e
guiné.

Benjoin, alecrim e alfazema
Vamos defumar filhos de fé
eu defumo.

Defumar III

Nossa Senhora defumou
meu Jesus Cristo
Foi para ele para ele chegar.

Mas eu defumo eu defumo
a minha casa
só para a paz e a alegria
entrar.

Como em todas as casas o Catimbó se inicia com a defumação que pode ser feita com defumadores feitos, naturais ou
mesmo, como é mais comum com a fumaça do cachimbo dos mestres.



Liturgias

Abertura de Mesa

A abertura da mesa é uma liturgia simples, mas significativa e bonita. Lidamos com uma pratica ritual pouco elaborada de forma que algumas poucas coisas podem ser destacadas como de beleza própria.
A abertura de mesa deve ser um ritual importante e solene. É claro que cada jurema é uma jurema e cada um pode ter sua forma de trabalhar com o mundo espiritual, mas a solenidade da abertura da
mesas é sempre tocante.
Deve-se louvar o nosso senhor Jesus Cristo, pedindo licença para abrir a mesa e exaltando a força da
Jurema. Podem ser recitadas preces como a de Cáritas e entoados cantos de abertura como o
seguinte:

Bate asa e canta o galo
dizendo cristo nasceu
cantão os anjos nas alturas
Rei nuino
Gloria no céus se deu.

Gloria nos céu se deu
nas portas do Juremá
abre e de licença
Santa Tereza
para os mestres trabalhar.

Oh minha Santa Tereza
pelo amor de meu Jesus
abre a mesa e de licença
Santa Tereza
pelo irmão João da Cruz

Por deus eu te chamo
por Deus eu mandei chamar
[ mestre tal ] da Jurema
para vir trabalhar.

Depois disso inicia-se as cantigas em roda, sempre alegres e animadas e os mestres virão um a um se
acostar para trabalhar.


Cantigas do Catimbó

Abertura

Abertura de mesa

Bate asa e canta o galo
dizendo cristo nasceu
cantam os anjos nas alturas
Rei nuíno
Gloriá no céus se deu.

Gloriá nos céu se deu
abre a mesa e da licença
Santa Tereza
para os mestres trabalhar.

Oh minha Santa Tereza
pelo amor de meu Jesus
abre a mesa e de licença
Santa Tereza
pelo irmão João da Cruz

Por deus eu te chamo
por Deus eu mandei chamar
[ mestre tal ] da Jurema
para vir trabalhar.

Abertura II

Setenta anos
Passei dentro da Jurema

Discípulo não tenha pena
de quem algum dia lhe fez mal.

Quando eu me zango
toco fogo em um rochedo
meu cachimbo é um segredo
que eu vou mandar pra lá.

Abertura III

Eu andei, eu andei, eu andei
Eu andei, eu andei, vou andar

7 anos eu passei foi em terra
outros 7 eu passei foi no mar

O jurema preta senhora rainha
abra a cidade mas a chave é minha.

O tupirã nauê o tupirã nauá
sou filho da Jurema
e venho trabalhar

Estas são as cantigas mais importantes e fortes do Catimbó. É com ela que abrem os trabalhos e prepara a roda para a
vinda dos mestres.

Abertura IV

A Jurema tem
a Jurema dá
mestre bom para trabalhar.

Um trago que eu dei
meu ponto firmei
7 cachimbos acendi de um vez.

Eu já mandei buscar
vai fumaça para onde eu mandar

Minha pisada é uma só
é na base do Catimbó.


O Cachimbo

Preparação de Cachimbos

O cachimbo é o instrumentos mágico ritual por excelência do Catimbó. É tão importante quanto o caldeirão e o Athame na
bruxaria, o Adjá no Candomblé e a tuia a Umbanda.
A magia do catimbó vai pelo ar, na fumaça. O Catimbó é uma pratica “enfumaçada”. Tudo se resolve na fumaça e o Cachimbo e
seu fuma, a marca, são os instrumentos que representam isso.
O cachimbo é elaborado usando materia prima natural. É feito a partir de troncos ou galhos de arvores sendo principalmente da Jurema Preta, mas cada mestre pode pedir um cachimbo de sua arvore-raiz ou arvore-fundamento. O cachimbo é entalhado na
madeira sendo na sua forma final tosco, mas, ao mesmo tempo bonito. Não cabe no Catimbó mestres usando os cachimbos comerciais como acontece ne Umbanda com os pretos-velhos. Cachimbo de mestre é feito e não comprado!
A elaboração de um cachimbo não é uma atividades corriqueira sendo que é comum cachimbos que foram feitos por pessoas iniciantes ou sem o poder mágico adquirido para isso se racharem com os primeiros usos. Como todo instrumento sacro fazer um cachimbo requer concentração, reza, o uso de alguma ervas ou mesmo, dependendo o tipo de cachimbo enterrá-lo durante algum tempo junto a raiz de algum árvore, arbusto ou planta que tenha significado com o uso a que se destina ou o mestre que
o utilizará.
Cada discípulo do Catimbó poderá ter 2 cachimbos, que serão usados por todos os seus mestres, mas, eventualmente mestres diferentes poderão vir a ter cachimbos diferentes com um mesmo discípulos. Os dois cachimbos são um para o uso de fumaça às direitas e o outro às esquerdas.
Ambos os Cachimbos para poderem adquirir sua finalidade ritual, se transformando assim em um objeto sacro do Catimbó deverão ser consagrados. Este é um ritual simples onde o Mestre principal da casa deve consagrar os cachimbos para o seu uso pelo discípulo no Catimbó, diferenciando assim este cachimbo de um outro comum.
O cachimbo de esquerda por requerer um ritual mais elaborado do que o de direita, bem como um discípulo só poderá ter e usar um cachimbo de esquerda quando tiver maturidade e evolução do seu poder mágico para poder trabalhar com este nível. Um cachimbo de esquerda só é usado em ocasiões especiais e normalmente é feito com secções de galhos ou pequenos troncos de jurema preta, que conservam a casa original e os espinhos, se possível assim obtê-lo.
Como dissemos os cachimbos são especializados. Assim para os trabalhos normal se usa o cachimbo da direita e para as mesas abertas às esquerdas ou quando se trabalha na esquerda, seja mandando ou se defendendo o cachimbo de esquerda é o usado.
Existe ainda um cachimbo especial, chamado estrela, que possui 1 caldeira e 7 canudos. É um cachimbo de esquerda e muito forte. Somente discípulos antigos e evoluídos em sua força mágica podem tê-lo.
Os cachimbos são individuais e contém o Axé de cada discípulo e mestre. Não se empresta cachimbo para outros. O Fumo do cachimbo pode ser o elemento de defumação do ambiente dispensando assim o uso de defumadores.

O Fumo

Elaboração dos Fumos ou Marcas

Da mesma forma o fumo é um elemento muito importante no Catimbó, possivelmente um dos seus maiores segredos. Os mestres e discípulos terão suas “marcas” que são os fumos especialmente preparados para o uso do mestre ou da finalidade a que se destina. Assim o fumo de um mestre, suamarca, é individual e contém além do tabaco, um conjunto de ervas especialmente
selecionadas e preparadas para o seu uso. Não é de bom tom encontrarmos mestres que fumam para seus trabalhos somente o tabaco comum sem qualquer tipo de preparo.
Poderá ser dito que o mestre que transforma aquele fumo comum em especial e que ele pode trabalhar sem as ervas, mas, isto é um absurdo. Considerar isso é jogar todo o resto fora de forma que também não é necessário as ervas para a cura e tudo o mais.
O elemento vegetal, contém o segredo do Catimbó e não pode ser substituído.
O mestre-discípulo deverá preparar para seu uso, pelo menos 2 tipos de fumos para serem usados com seus 2 cachimbos. Fumos de direita que contém ervas “frias” e de bons fluidos e os fumos de esquerda preparados para combater ou gerar demandas. Não
é raro que se tenham mais tipos de fumos para outras finalidades específicas. Assim podem ser feitos fumos de limpeza astral, fumos para facilitar a invocação de mestres e encantados, fumos para trabalho de amor, etc..
Como dissemos o fumo é especialmente preparado pelos mestres e discípulos. Além do tabaco serão adcionadas folhas secas, cascas e semente de acordo com o uso que quer para o fumo.
Com o tempo o discípulo aprende ou é intuído a entender que combinações deve fazer nos seus fumos criando suas marcas. O processo de preparação do fumo pode levar vários dias de acordo com a complexidade da formula e em função da dificuldade de achar e tratar os diversos elementos.
Alguns elementos podem levar dias sendo secos ao sol ou triturados antes de juntá-los ao tabaco.
Por exemplo:
um fumo de esquerda pode ser preparados com os seguintes elementos:

Comigo-ninguém-pode (muito pouco) - secar e triturar.
Raiz de aroeira - triturar em pedaços pequenos (lascas).
Pião roxo - secar e triturar.
Guiné piu-piu - secar e triturar
Cravo - triturar até virar pó.
Pimenta do reino - triturar até virar pó.

Um fumo de direita, bem “doce” para encontos de amor:

- Retirar a casca de uvas vermelhas, somente a parte mais externa e vermelha, jogar a polpa fora.
Colocar a casca retirada para secar no sol.
- Retirar a casca de laranja lima e também secar ao sol.
- Retirar a casca, bem fina, só a parte vermelha de maças vermelhas e colocar ao sol para secar.
- Obter flores secas de camomila.
- Alfazema.
- Canela em pau quebrada muito miuda.
- Triturar sementes de aniz estrelado.
- Pétalas secas de rosa mosqueta.

Cantigas

A simplicidade litúrgica e estética do Catimbó se estende para as suas cantigas que tem utilização e estrutura similar aos pontos de Umbanda, mas, que são diferentes. Não se usa no Catimbó, para seus mestres, os pontos de Umbanda, exceto é claro se será trabalhada uma linha de Umbanda, como a dos Caboclos e almas.
É interessante observar que a entidade primária do Catimbó são seus Mestres, mas nada impede, como ocorre na Umbanda, que da Raiz do mestre principal possam ser trabalhadas linhas emprestadas como as de Umbanda, mas este aspecto é tratado com mais detalhe em outro lugar deste sítio.
No que diz respeito às Cantigas e no que pese a característica de cada casa, os Mestres em geral representam a alegria e descontração, assim suas cantigas também são assim.
Mesmo em sua simplicidade vamos encontrar Cantigas especializadas para cada tipo de invocação e trabalho.
Notem que cada casa pode ter suas próprias cantigas ou fazer variações em cantigas conhecidas. É o mesmo fenômeno natural que também ocorre na Umbanda, pelo simples fato que estamos tratando com gente e tradições orais (pela falta da habilidade escrita).
Desta forma as cantigas aqui listada refletem a forma como eram empregadas na já extinta

“Tenda de Catimbó do Rei Cigano”.

2. Abertura de trabalhos

1. Defumação

3. Invocação geral dos mestres

4. Dos Mestres

5. De trabalhos

6. Do povo Cigano


Cantigas do Catimbó

Invocação Geral

Chamando mestres I

Estava sentado na linha
comendo farinha
quando o trem passou.

Jogaram um balaio de matéria
que veio do inferno
o diabo mandou

Pau-ferro, pau martelô.
Vai virando,. Pau martelô
[ mestre ] pau martelô.


Chamando mestres II

Eu moro é debaixo d`agua
debaixo da ponte eu venho.

É na virada
é na virada
é na virada eu venho

é na virada
é na virada
é na virada eu vou.

Estas cantigas são usadas para se iniciar a chamada dos mestres. Alguns mestres vem quando suas
cantigas próprias são cantadas e outros quando estas são usadas. Estas cantigas podem ser usadas
no meio dos trabalhos e não necessariamente no início.


Cantigas do Catimbó

Invocação Geral

Chamando mestres I

Estava sentado na linha
comendo farinha
quando o trem passou.

Jogaram um balaio de matéria
que veio do inferno
o diabo mandou



Pau-ferro, pau martelô.
Vai virando,. Pau martelô
[ mestre ] pau martelô.


Chamando mestres II

Eu moro é debaixo d`agua
debaixo da ponte eu venho.

É na virada
é na virada
é na virada eu venho

é na virada
é na virada
é na virada eu vou.

Estas cantigas são usadas para se iniciar a chamada dos mestres. Alguns mestres vem quando suas
cantigas próprias são cantadas e outros quando estas são usadas. Estas cantigas podem ser usadas
no meio dos trabalhos e não necessariamente no início.


Cantigas do Catimbó

De trabalho

Caldeirão

Quem nunca viu venha
ver
caldeirão sem fundo
ferver.

Ah eu quero ver
queimar carvão
ah eu quero ver
carvão queimar.

Liamba

ô Liamba
ô Liamba

é no charuto
é no cachimbo
é na fumaça
é na quimbanda.

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Cantigas do Catimbó

Do Povo Cigano

Invocação geral

Mas que bando é este
é um bando de cigano
caravana caravana
caravana de cigano.

Cigana I

Cibilim de ouro
chuva fina não me molha

Se você não me quiser
outros querem e você
chora

Melão melão
sabiá de laranjeira

A cigana é boa
mas também
é traiçoeira.

Cigana III

Ganhei uma barraca velha
foi a cigana quem me deu.

O que é meu é da cigana
o que é dela não é meu.

A cigana cigana puerê
puerê puerá.

Cigana II

Ciganinha ciganinha
da sandalia de pau.

Por onde você passa
faz o bem e faz o mau.


Cigana IV

Cigana eu vou precisar
de um patuá e de uma figa
de guiné

se for preciso farofa amarela
eu dou
pra tirar o mau olhado
que eu estou

Cigana te ofereço uma vela
para poder ficar
bem juntinho dos olhos dela
oh cigana.

Cigana V

Andava caminhando a pé
para ver se encontrava
uma cigana de fé.

Ela parou e leu a minha mão
a minha mão
e disse a mais pura verdade.

Mas eu só queria saber
aonde mora
a rainha cigana.



O fundamento dos Mestres

Mestres e seu fundamento no Catimbó

No panteão juremista existem vários Mestres e mestras, cada qual responsável por uma atividade relacionada aos diversos campos
da existência humana (cura de doenças, trabalho, amor...). Há ainda aqueles responsáveis por fazer trabalhos contra os inimigos.
Nas mesas e rodas as representações das entidades relacionadas nesta categoria são as mais elaboradas, geralmente possuindo o
“estado completo” e a jurema plantada; em especial a do Mestre da casa, aquele que incorpora o juremeiro, faz consultas e inicia os afilhados nos segredos do culto. Por tudo isso este Mestre é carinhosamente chamado de “meu padrinho”.
Aliás esta característica de independência dos Mestres é que os tornam muito eficazes e temidos. São entidades que trabalham com magia direita e esquerda e não estão contidos por critérios ligados a Orixás. Não que os Mestres sejam desprovidos de justiça e bon senso, ou mesmo superiores a outras entidades e Orixás, mas o seu trabalho não depende de hierarquias complexas de serem atendidas.
Os Mestres são guias, orixás sem culto, acostando espontaneamente ou invocados para servir. Cada um possui fisionomia própria, gestos, vozes, manias e predileções. Sâo muito ligados a sua última vida e às coisas terrenas por isso fazem questão de algumas peças de indumentária, mas, não tem a teatralidade exagerada das entidades de umbanda. A fisionomia é uma forma muito característica de se reconhecer um Mestre. Com um pouco de experiência pode-se reconhecer um Mestre pelos ademanes, trejeitos, posição das mãos, da boca e forma de andar.
Cada Mestre tem sua linha, um canto ou cantiga, de melodia simples. Há Mestres que não tem linha, como Mestre Antonio Tirano e Malunginho, ambos ferozes. Essa linha era cantada como uma invocação ao Mestre. Sem canto não ha encanto. Todo feitiço é feito musicalmente. Alinha é o anuncio e o pregão característico do Mestre.

Cada Mestre está associado a uma cidade espiritual e a uma determinada planta de ciência (angico, vajucá, junça, quebra-pedra, palmeira, arruda, lírio, angélica, imburana de cheiro e a própria jurema, entre outros vegetais), existindo ainda alguns relacionados à fauna nordestina. Para os Mestres relacionados a uma planta que não a jurema, são estas plantas que têm seus troncos plantados nas mesas dos discípulos.
Por exemplo, a cidade do Mestre angico deve ser plantada em um tronco da arvore do mesmo nome; as cidades das mestras geralmente são plantadas em troncos de imburana de cheiro. No caso dos Mestres que têm relação com vegetais, são daquelas espécies que tiram a força e a ciência para trabalhar. Os que têm relação com animais, acredita-se que eles possam encantar-se
em animais das espécies referidas, aparecendo em sonhos, visagens e, muitas vezes, assim metamorfoseados quando incorporados em seus discípulos.
Como oferendas, os Mestres recebem a cachaça, o fumo - seja nos charutos ou cachimbos -, alimentos próprios de cada um e a jurema, bebida feita com o sumo vermelho retirado da casca e da raiz da jurema e que pode receber outras ervas e componentes (cachaça, melado, canela, gengibre e outras à gosto).
Nos terreiros que sofreram maior influência dos cultos africanos, é comum o Mestre receber sacrifícios de galos vermelhos, bodes e muitas vezes de novilhos, mas isto é uma deturpação do culto da jurema que por suas
origens indígenas (caboclos) e católicas não tem a tradição ou necessidade de sacrifícios em suas liturgias.
Não que isto seja errado ou negativo, mas apenas que não faz parte de suas bases sendo mais um fenômeno de Umbandização.

Elementos e Liturgias

Assentamentos

O principal assentamento de uma casa é a Jurema Preta. O correto é a casa ter uma Jurema plantada em seu terreno ou até mesmo dentro da sala de culto. Na falta de condições de se fazer isso então um tronco de jurema, preparado pelo mestre principal da casa deve ser colocado ou “assentado” debaixo da mesa de Jurema, dentro de uma vasilha de barro ou de louça,
ficando escondido pela toalha da mesa. O que se coloca nesta vasilha e tronco diz respeito exclusivamente ao mestre da casa
O assentamento individual dos mestres é composto por pincipes e princesas que ficarão sobre a a mesa. As princesas são vasilhas redondas de vidro ou de louça dentro das quais é preparada a bebida sagrada e onde, em ocasiões específicas, são oferecidos aliments ou bebidas aos encantados. Os príncipes são taças ou copos, que normalmente estão cheios com água e
eventualmente com alguma bebida do agrado da entidade. É comum ver nas mesas mais elaboradas uma complexa arrumação onde entra na composição príncipes, princesas e troncos.
O príncipe ou princesa é a menor unidade de simbolização de uma entidade espiritual. Todo juremeiro deve ter ao menos um destes dedicados ao seu Mestre e assentado em sua mesa. Contudo de acordo com a disponibilidade financeira, pode-se constituir todo um estado espiritual (conjunto de cidades dominadas por uma determinada entidade). Confecciona-se um estado
através do uso de uma princesa tendo ao seu centro um príncipe e em seu derredor mais seis deles. Para complementar este
artefato entraria o tronco da árvores sagrada, que pode ficar no centro da mesa ou embaixo dela.
Princesa (bacia de louça) não é colocada diretamente sobre a toalha de mesa e sim numa rodilha de pano não servido, limpo, virgem e são. Diante do Mestre fica um crucifixo, à esquerda a chave de aço (virgem) de qualquer uso, limpinha e reluzente, infalível e indispensável para abrir e fechar as sessões e simbolicamente o corpo dos consulentes. Recorda a bruxaria européia a
santa chave do sacrário, furtada para uso no feitiço.
Para alguns é no tronco que estaria o verdadeiro segredo de uma jurema plantada. Portanto eles argumentam que esta deveria estar longe dos olhos dos curioso, normalmente embaixo da mesa ou em algum lugar mais reservado. Como adverte uma das cantigas:

A ciência da jurema,
todos querem saber
mas é feito casa de abelhas,
trabalho que ninguém, vê.

O assentamento de mestres é feito através de 2 caminhos. O primeiro é que geralmente um mestre é assentado em uma arvore ou arbusto próximo a casa do Catimbozeiro. É ai que o mestre é cultuado, na raiz da planta em um processo similar (mas não igual) a um tipo de assentamento de Exu no Candomblé. O mestre está ligado a raiz e a força da folha. O segundo é através das princesas onde é colocao a sua raiz e onde eventualmente serão colocadas oferendas que irão "alimentá-lo", que podem ir de bebidas e fumos, até mesmo a peixes e caças leves. Neste caso este assentamento é feito com a raiz do mestre.


Liturgias: Iniciação e Tombo

Iniciação

A iniciação no Catimbó se faz com rituais simples porém com muita significação. O primeiro ritual que passa um discípulo é a jura no qual ele deve se confirmar como um discípulo da Jurema. Com o passar do tempo e sua evolução ele irá receber o seu cachimbo que será consagrado por um Mestre. Será através deste cachimbo que ele fará os seus trabalhos. Finalmente após alguns anos ele deverá realizar o tombo onde se confirmará como um Mestre em vida do Catimbó.

Tombo

O tombo de jurema constitui-se no processo pelo qual muitos dos Mestres que hoje estão no mundo espiritual passaram para ganhar ciência. Tombam no pé da jurema e ao acordar estão prontos para trabalhar. Foi o caso do Mestre Carlos, famoso por seu dom de cura nas mesas de jurema de todo o Nordeste.

Contudo nos terreiros o rito foi tornado bem mais complexo que sua referência mística. O tombamento consiste então no
oferecimento de alimentos e sacrifícios às correntes espirituais do iniciante. Nele comem o caboclo, o Mestre, a mestra, o exu e
a pombagira do iniciante. Acontece ainda a juremação com a implantação da semente através do corte na pele e a viagem espiritual. A viagem deve acontecer no período que se intercala entre a oferta dos sacrifícios ao caboclo e a preparação das comidas oferecidas em banquete ritual. Ainda durante o sacrifício o iniciante é levado durante o transe para correr as cidades
espirituais. O interessante e singular neste transe é que os adeptos acreditam que enquanto a pessoa é levada para realizar a viagem espiritual, o caboclo permanece no corpo do iniciante.
Concluído o sacrifício passa-se à preparação das carnes dos animais e à partição das frutas e alimentos oferecidos aos encantados. O caboclo é alimentado com uma pequena porção de tudo que foi oferecido. Findo o banquete, o caboclo é então mandado de volta a sua cidade e o filho deverá contar ao seu iniciador o que viu. Se a viagem for considerada válida.
seguem-se os sacrifícios às demais entidades: o ( Mestre, a mestra), o exu e a pombagira.

OBS: Vale salientar que no Catimbó não existe Exus nem Pombas giras nem tampouco Sacrifício animal, quando se fala em SACRIFÍCIO para Exu e Pomba Gira é por causa que geralmente os médiuns quando vão se consagrar já trabalham com estas entidades daí o cuidado de propiciá-las com o sacrifício.


No dia posterior, em animada festa o caboclo vestido a caráter deverá como na iniciação do candomblé gritar o seu nome e também cantar a sua toada (cantiga). O iniciante também poderá vestir as demais entidades quem deu de comer. A riqueza deste ritual completa está intrinsecamente ligada às condições financeiras do iniciante. Sem dúvida este ritual segue o formato
do Candomblé.


Liturgias: Juremação

Juremação

Muitos juremeiros dizem que “um bom Mestre ja nasce feito”; contudo, alguns ritos são utilizados para fortificar as correntes e dar mais conhecimento mágico-espiritual aos discípulos. O ritual mais simples, porém de muita ciência, é o conhecido como juremação, implantação da semente ou ciência da jurema. Este ritual consiste em plantar no corpo do discípulo, por baixo de
sua pele, uma semente da arvore sagrada.

Existem 3 procedimentos para a juremação dos discípulos.
No primeiro, o próprio Mestre espiritual é o responsável pela
implantação da semente. Esse Mestre promete ao discípulo e após algum tempo, misteriosamente, surge a semente em uma parte qualquer do corpo. O segundo procedimento é aquele em que o líder religioso, o juremeiro, realiza um ritual especial, em que dá a seus afilhados a semente e a bebida de jurema para beber. Após este rito, o iniciante deve abster-se de relações sexuais por sete dias consecutivos, período em que todas as noites ele devrá ser levado em sonhos, por seus guias espirituais, para conhecer as cidades e aldeias onde aqueles residem. Ao final deste período, a semente ingerida deverá reaparecer
embaixo de sua pele. Caberá ainda ao iniciante contar ao seu iniciador o que viu em sonho para que este reconheça ou não a validade de viagens espirituais e por conseguinte da juremação. Em um terceiro procedimento o juremeiro implanta a semente da jurema através de um corte realizado na pelo do braço.

Mestres do Catimbó

Quem são os "Mestres do Catimbó"

O termo Mestre é de origem portuguesa, onde tinha o sentido tradicional de médico, ou segundo Câmara Cascudo, de feiticeiro. Este é o primeiro elemento de ligação do Catimbó com tradições européias, provavelmente cabalistas e mostra também nestes 2 significados a expressão semântica do trabalho do
Mestre, a cura e a magia.
De forma geral os Mestres são descritos como espíritos curadores de descendência escrava ou mestiça, que em suma é a característica dos habitantes das regiões onde o Catimbó floresce, mas que não deve ser
tratado como um dogma. Dizem os juremeiros que os Mestres foram pessoas que quando em vida trabalharam nas lavouras e possuíam conhecimentos de ervas e plantas curativas. Por outro lado algo trágico teria acontecido e eles teriam se passado, isto é, morrido, encantando-se, podendo assim voltar a
acudir os que ficaram “ neste vale de lágrimas”.
Não existe Mestre do bem ou do mal. O Mestre é uma entidade que pode fazer o bem ou o mal de acordo com a sua conveniência, a ordem da casa e a ocasião.

A função dos Mestres e do Catimbó

Nesta generalização podemos entender muito bem o como e porque do culto do Catimbó. Em uma região dominada pela pobreza e falta de assistência a população carece de assistência médica sendo a doença um temor presente e terrível. Neste sentido os Mestres se apresentam como enviados para socorrer e aliviar o sofrimento dos desasistidos oferecendo a tradição da medicina fitoterápica, herdade dos índios para assistir a população. Por outro lado em regiões de pessoas simples mas que são submetidas a poderosos, violentos e
jagunços onde falta a justiça do homem e a única proteção que todos podem contar é a misericórdia divina, os Mestres são como anjos vingadores que, apesar de ainda fortemente influenciados por suas manias e imperfeições humanas, se colocam assim mesmo como protetores e defensores de gente desasistida.
Desta maneira podemos entender que os caminhos de Deus são inúmeros e que a espiritualidade se manifesta da forma como é necessária para garantir uma vida justa e decente aos habitantes desta terra fria. É neste contexto que o Catimbó se insere, absorvendo a tradição religiosa de gente simples e
adicionando a esta base espiritual fortemente calçada em princípios de ética, bondade e misericórdia do cristianismo a necessidade do dias a dia introduzindo os ritos mágicos de trabalho e o trabalho dos espíritos acostados.

Seria muito mais difícil se o Catimbó trouxesse uma doutrina religiosa própria. Na realidade seria até mesmo impróprio ou desnecessário. Trata-se de gente muito simples que aprendeu e passou
a vida toda aprendendo so conceitos e ensinamentos católicos estando possivelmente muito acostumados e doutrinados nesta verdadeira fé.


Mestre Carlos

Mestre Carlos

Rei dos mestres, conhecidíssimo em qualquer sessão de Catimbó. Era um rapaz que gostava de beber e jogar "farrista", andava no meio de "mulheres perdidas e gente livre", Filho do Inácio de Oliveira, conhecido feiticeiro. O pai tinha desgosto e não o queria iniciar na feitiçaria. Contam, então, que Mestre Carlos "aprendeu sem se ensinar", quando de uma bebedeira caiu num tronco de Jurema e morreu após 3 dias. Essa bebedeira seria o resultado de práticas rituais do Catimbó exercidas solitariamente e sem iniciação. Um dia o pai saiu de casa e Carlos, com 13 anos apenas, penetrou no "estado", tirou objetos imprescindíveis de invocação e saiu com eles. Foi num mato de juremeiras e iluminado por uma presciência maravilhosa conseguiu abrir uma sessão
sozinho e invocar um mestre. Logo como em geral sucede, quando o mestre se desmaterializou outra vez caiu desacordado. O pai chegou em casa, Carlinhos nada de voltar. No dia seguinte a inquietação principiou. Andaram campeando o menino por toda a parte e no outro dia seguinte, Inácio de Oliveira, deseperado, reuniu gente e fez uma sessão. Quando caiu em transe, que mestre entrara no corpo dele? Nada menos que Mestre Carlos o mestre menino.
Mestre Carlosé caracterizado como um entidade algre, que gosta de brincar e rir durante as sessões; gosta de bebida, bebe jurema e cachaça. Especialista em casamentos e descobridor de segredos, estando sempre pronto para o bem e o mal. Considerado pelos juremeiros como um mestre curador. Quando incorporado o medium transforma a fisionomia, fica meio estrábico,
os lábios ficam em forma de bico; fala muito conversa com os presentes, gesticula, brinca, ri, receita garrafadas e dá passes.

Zé Pilintra

Um mistério na umbanda,esse guia que é muito conhecido na Umbanda,Candomblé e outras.

Sua primeira aparição foi no Catimbó,antiga religião onde se fazia muito feitiço,uma religião muita pesada,com muitas cargas negativas,essa religião se usava muito vodum,aqueles bonecos que simbolizavam pessoas,onde se colocava alfinetes nela como se tivesse maltratando-a .Os guias que se manifestavam nessa religião eram chamados de mestres,Mestre Zé Pilintra ,por exemplo.
Na Umbanda ele se manifesta tanto na direita(guias como preto velho,baianos,etc..) e esquerda(exus).
Na direita ele vem na linha de baianos e pretos velhos ,fuma cigarro de palha,bebe batida de coco,pinga coquinhos ou simplesmente cachaça,sempre com sua tradicional vestimenta.Calça Branca,sapato branco(ou branco e vermelho),seu terno branco,sua gravata vermelha, seu chapéu branco com uma fita vermelha ou chapéu de palha e finalmente sua bengala.

Gosta muito de ser agradado com presentes,festas,ter sua roupa completa,é muito vaidoso,os Zé Pilintra ,tem duas características marcante:

Uma é de ser muito brincalhão ,gosta muito de dançar,principalmente chachado,gosta muito da presença de mulheres,gosta de elogia-las ,etc...

Outra é ficar mais sério ,parado num canto assim como sua imagem,gosta de observar o movimento ao seu redor mas sem perder suas características.

Agora quando ele vira para o lado esquerdo, a situação muda um pouco ,em alguns terreiros ele pede uma outra roupa,um terno preto,calças e sapatos também pretos ,gravata vermelha e uma cartola,fuma charutos ,bebe marafo,conhaque e uísque ,até muda um pouco sua voz.Em alguns terreiros ele usa até uma capa preta.

E outra característica dele é continuar com a mesma roupa da direita,com um sapato de cor diferente,fuma cigarros ou cigarilhas,bebe batidas e pinga de coquinho,e sempre muito brincalhão,extrovertido.Trabalha muito com bonecos,agulhas,cocos,pemba,ervas,frutas,frango,velas,etc..

Seu ponto de força é na porta do cemitério,pois ele trabalha muito com as almas,assim como é de característica na linha dos pretos velhos e exus.Sua imagem fica sempre na porta de entrada no terreiro,pois ele é quem toma conta das portas ,das entradas ,etc...

É muito conhecido por sua irreverência,suas guias pode ser de vários tipos,desde coquinhos com olho de cabra até vermelho e preto, vermelho e branco ou preto e branco.

Cantigas

1)Com seu chapéu de palha

E seu lenço no pescoço

Zé Pilintra veio a terra

E me deu boa noite moço

2)O Zé quando for na lagoa

Toma cuidado com o balanço da canoa

O Zé faça tudo o que quiser

Mas não machuque o coração dessa mulher

3)O Zé ,Zé Pilintra enganador

Enganou a jovem com palavras de amor

Não foi eu,foi ela,

Foi ela quem me enganou

Eu passava ela dizia Zé Pilintra meu Amor



Mestre Pereira

Mestre Pereira

Tem como fundamento o pau pereira. Este mestre é a evolução do antigo Antonio Tirano, dito mestre sem linha. Ele é uma mostra viva que o Catimbó existe para recuperar estas almas que perdem o seu caminho na passagem pela terra fria. Antonio Tirano é personagem passado de uma história terrível na qual ele em momento de desespero de falta de esperança, mesmo que
momentânea, ele matou sua família de mulher e 2 filhos e depois se matou. Na hora de sua passagem foi resgatado por mestre do Catimbó que trouxe-o para o Catimbó mesmo ele não tendo sido Catimbozeiro em vida.

Na sua forma de Pereira, é um mestre em evolução. Vinha muito sério e ainda meio encrenqueiro, com pouco "pavio", mas vinha com uma vontade enorme de ajudar as pessoas, curá-las e fazer o bem. Era uma criatura muito faladora que gostava de "filosofar" sobre a vida e passar lição nos outros que estavam comentendo erro. Trabalhava com a casca do Pau pereira.

Ele tinha como busca encontrar a almas dos seus filhos que reencarnaram (ele não, mas os filhos sim) de modo a poder acompanhá-los espiritualmente neste nova existência. Com a graça de Deus, já tinha encontrado um, mas não tive notícias se encontrou o outro.

No período que convivi com ele, nunca o vi fazendo o mal e sempre o via de pessoa em pessoa na assitência buscando resolver os problemas que eram possível. Ele se aproximou de uma discípula que frequentava o Kardecismo e após o termino da nossa casa tive notícias que ele estava lá evoluindo e ajudando os outros.

Certamente em algum tempo não ouviremos mais falar dele porque ele vai ter cumprido o seu tempo aqui e pode ganhar uma nova vida para continuar a sua existência, quem sabe como "uma mulher parideira" como ele mesmo um dia comentou.

Outras entidades

Outras entidades

Além dos caboclos e dos Mestres, vêm na jurema, mas com menos freqüência os pretos-velhos e pretas-velhas. Espíritos de velhos escravos africanos, peritos em benzeduras e nos conselhos que dão a seus “netinhos” dos terreiros. Temos aqui, talvez, uma influência da umbanda sobre o custo juremista.

Contudo a influência dos cultos africanos é mais bem expressa na incorporação dos exus e pombagiras ao panteão. Na jurema eles aparecem como servos dos Mestres ou como Mestres menos esclarecidos e mais propícios aos trabalhos para o
mal.

Juntam-se a esta panteão os santos da Igreja Católica, que são cumprimentados pelos Mestres e caboclos e aos quais encontramos referências nas cantigas e nas orações utilizadas nos fazeres mágicos ensinados pelos espíritos.

Também encontramos em algumas juremas os Orixás do Xangô. Em algumas casas se abrem as giras de jurema cantando para os deuses de origem africana, depois de saudar Exu. Entretanto as cantigas são geralmente em português como na
umbanda.

È muito comum que os Mestres indiquem serviços a serem feitos com o povo de bunda grande”, além de saberem quais os seus próprios orixás de cabeça. Junte-se ainda o Deus supremo, que é sempre saudado pelos Mestres e caboclos: “Quem
pode mais do que Deus?”.



Terços, Rosário e fios de conta

Terço, rosário e fio de contas.

O terço e o rosário, junto com o cachimbo são as ferramentas básicos do catimbozeiro que no fundo é um crente. Não pode haver catimbozeiro sem seu terço ou mesa sem o seu rosário. O catimbozeiro pede o que quer no tempo e é na reza que busca a mudança, assim vela, agua benta e crucifixo não podem faltar em casa de catimbozeiro.

Dentro da dificuldade que temos para classificar o Catimbó, uma vez que não é afro-brasileiro e não é kardecista, não é pagão, poderíamos dizer que é um braço misico espírita de crentes. E como se crentes e católicos se ligassem a prática espírita e mística sem se afastar de sua crença religiosa principal. Algo que fica entre o catolicismo do início da idade média e o espiritismo de incorporação tipicamente brasileiro.

O terço virtualmente se transforma no fio de contas do Catimbó, entretanto, em mais um sincretismo com o Candomblé e Umbanda, poderemos encontrar o fio de contas do Catimbó em algumas casas. Ele é feito com lágrimas de nossa senhora, com uma cabacinha que fica na altura do pescoço. Ao longo do fio de contas, varios talismãs são colocados, mas, principalmente uma chave, peça básica no Catimbó.

Enquanto no Candomblé o Fio de contas tem uma finalidade de carcterizaçào hierarquica, de indentificação de Orixá e também
ritual, uma vez que ele é imantado com o Axé da mantança, no catimbó nada disso ocorre. O fio é mais uma representação sincrética e decorativa, que não atrapalha, mas, tenho dúvida se tem a eficácia que se espera.

Entretanto o terço, não. Ele é continuamente encantado através da manipulação durante rezas e benzeduras com agua benta.
É um instrumento liturgico importante.

O rosário, junto com o crucifixo e o esplendor é a representa máxima da crença. Enquanto o terço é portátil e pode ser transportado com facilidade seja como instrumento sacro ou como talismã de proteção o rosário vai encontrar o sei lugar na mesa de catimbó.


Como rezar o Terço

Da Dedicação:

O terço deve ser rezado com concentração, força e devoção. Rezar é uma forma de mostrar louvor a Deus.
É uma ato de fé. A força da reza está na necessidade e na intenção. Sempre que puder reze o terço em voz audível. É claro que dependendo do lugar você pode fazê-lo de forma reservada, mas, é muito mais poderoso quando nossa voz expressa nossos desejos e sentimentos. Não tenha vergonha de rezar.

O terço deve ser oferecido. Pode-se oferecer todo ele a uma só pessoa ou causa ou pode-se dedicar um mistério a cada intenção. Pode-se ainda rezar um terço todo para nós mesmos.

Da composição:

O terço é composto de 5 mistérios, na realidade 10, sendo que nas segundas e quintas rezamos os mistérios gozosos e nas terças e sextas os dolorosos. Não vou aqui abordar os mistérios.
Cada mistério é composto de 1 pai nosso e 10 ave-marias, que correspondem respectivamente a conta mais separada das demais (Pai nosso) e as 10 contas em sequência (ave-maria). Um rosário é composto pela
reza de 3 terços.

Da forma de rezar:

Isto é uma sugestão, mas, recomendo que as primeiras contas a serem rezadas, as que ficam entre o crucifixo e a primeira conta do primeiro mistério, em um total de 4 contas, uma masi separada e 3 juntas, devem ser dedicadas a você mesmo e ao seu anjo da guarda.
Você deve usá-las para relaxar e se concentrar pedindo luz, calma e agradecendo ao seu anjo da guarda.
Dedique estas primeiras orações a você, mesmo que esteja rezando o terço em intenção de outra pessoa ou causa.
Além disso use esta primeira sequência para rever a pessoa que foi durante o dia e se arrependa dos seus erros, pecados e omissões.
Como eu disse concentração é muito importante e enquanto reza cada mistério se concentre na intenção que deseja, isto vai fazer você se desligar do resto do mundo.


A RAIZ RELIGIOSA AMERÍNDIA
O ENCANTAMENTO

No processo de "evangelhização" imposto aos indígenas brasileiros pelos Jesuítas, a figura do Messias Civilizador Yurupari, não foi transformada em decalque do Cristo, mas sim aproximada ao "Diabo" dos católicos, embora os Jesuítas tenham adotado pessoalmente a sua erva sagrada "Petun" – o Tabaco – , o qual era usado para provocar transe mediúnico nos Xamãs indígenas (os Payés), transformando o uso dessa "erva sagrada" em um vício profano que, ao longo do tempo, tornou-se uma praga social universal.
Do mesmo modo, os colonos brancos assimilaram as soluções indígenas que, na prática, provavam ser eficientes nesta nova terra : trocaram o trigo pela mandioca, o leito pela rede, o vinho pelo cauim; aprenderam a fumar e começaram a gostar dos frutos e das filhas desta terra, iniciando a primeira miscigenação racial deste país, gerando filhos mestiços que foram muito apreciados como elos de ligação das alianças com as tribos indígenas que os colonos precisavam estabelecer para sobreviver aos ataques das tribos de nações indígenas inimigas.


Começava aí o sincretismo cultural, racial e social que marcaria todo o período do descobrimento, conquista e colonização do Brasil e que, talvez, o diferencie de todos os outros povos irmãos da América Latina.
Já o sincretismo religioso ficou por conta dos descendentes dos indígenas espoliados à medida que viam naufragar a cultura de seus ancestrais e nada lhes era dado em troca para substituí-la.
Assim, sempre que afrouxados o laço e a peia da "evangelização" católica forçada, a espiritualidade indígena reaflou e perdurou por um largo período de tempo, quiçá até nossa era, embora desde então já se apresentasse sincretizada com motivos cristãos, por necessidade de sobrevivência e ascensão social.
Sobre este afloramento "impertinente" de uma religiosidade indígena que os catequistas católicos pensaram haver suplantado, assim se expressou Roger Bastide : –"Se excluir a região do Maranhão, onde o (negro) Daomeano dominou, todo o Norte do Brasil, da Amazônia às fronteiras de Pernambuco será domínio do índio. Foi ele que marcou, com profunda influência, a religião popular: "Pajelança" no Pará e Amazônia; "Encantamento" no Piauí; "Catimbó" nas demais regiões."–
Podemos acrescentar que o mesmo se deu, inicialmente, por toda a parte, como por exemplo no Estado de São Paulo, onde brancos, indígenas e seus mestiços tiveram estreita convivência e miscigenação, ao ponto da língua Tupi aí predominar sobre a Portuguesa, até os meados do século XVIII.
Da confusa mixagem de conceitos religiosos expressos no Tuyabaé-Cuaá, no Catolicismo da Contra-Reforma, na "Santidade" e na Pagelança, mal compreendidos todos de parte à parte, originou-se o "Encantamento", o culto dos "Caboclos Encantados", considerados por seus fiéis como espíritos de mestiços indígenas-brancos mais ou menos cristianizados e que faziam externamente as vezes dos "Santos" católicos, mas que ainda cumpriam uma função social para a coletividade mestiça indígena, adotando a divisão tribal em clãs - os "Filhos do Sol" e os "Filhos da Lua" - e que embora ainda usasse a fumaça da erva sagrada "Petun" ou Tabaco para induzir o transe mediúnico, o fazia através de Cangüeras ou grandes "charutos" de tabaco enroçados à mão, todas estas prática religiosas sendo acompanhadas por "pontos" ou "cânticos", melodias indígenas deturpadas e expressadas em língua portuguesa estropiada.
Da fusão destes novos cultos de Caboclos Encantados com os primeiros aportes isolados da religiosidade dos negros Bantos, quase sempre escravos fugitivos que encontraram guarida na Pajelança e no culto dos Encantados, foi que esboçou-se o segundo sincretismo religioso brasileiro - o Culto do Catimbó.

Mana, Axé e Benção
Mestre Piron



Cultos mágicos assemelhados

Pajelança

Não se pode falar em Catimbó sem se referir à Pajelança. Ambos se identificam, muito embora em regiões diferentes. A Pajelança é uma forma de religião praticada no Amazonas, Pará e Piauí.

Sua prática reúne uma mistura heterogênea de rituais de várias outras religiões. Nela são encontrados ritos de Candomblé, Xangô, Catimb´, Espiritismo, Catolicismo e práticas de origem indígena.

Nas suas reuniões, o Pajé e as demais pessoas presentes bebem o tafiá (cachaça), enquanto o chefe dirigente se prepara para atender aos consulentes.

Após a invocação dos encantados que baixam, é feita a indagação da causa dos males
que afligem este ou aquele filho. É também procurada a puçanga (receita) indicada para
cada caso.

Os encantados que receitam, geralmente, são almas de animais que encarnam no Pajé.
Caso oesse encantado não conheça o remédio eficaz, indica qual o meio a seguir.

O pajé sua sempre na mão o maracá e um feixe de plumas de ema. O único instrumento musical usado na Pajelança é o maracá que se transformam em instrumento mágico quando manejado por ele.

O Catimbó e o Xamanismo

O Catimbó é a prática de rezas e orações, E COM AS FOLHAS DE JUREMA, proveniente da arvore Jurema, sagrada da natureza. É a invocação dos espíritos da Jurema(encantados), e serve para curar doenças, trazer a Paz e dar prosperidade a todos. O CATIMBÓ de seu Zé Pelintra, se baseia no antigo e verdadeiro catimbó da JUREMA. Dentro da Umbanda, sem ser muito percebido, Zé Pelintra pratica e muito seu Catimbó. O prato principal é o Cuscuz de Peixe, que é símbolo da saúde e prosperidade. São Mestres de Catimbó, o Mestre Carlos, Arigo, Araribóia, etc...Em breve mais notas sobre a JUREMA ( arvore sagrada ) e simpatias do Catimbó de seu Zé. Nas situações mais difíceis, perante os seres humanos que se julgam, às vezes MESTRES, que se acham muito entendidos nos assuntos espirituais de Umbanda e Candomblé, Zé Pelintra sempre se mantêm humilde perante essas situações. A vaidade humana é sem dúvidas o atraso das Obras espirituais. Devemos sempre apreender a sermos humildes e nos considerar sempre um eterno Aprendiz, pois mesmo o mestre sempre está apreendendo com outro mestre. No Catimbó de seu Zé, a bebida Vinho da Jurema é feita a partir da árvore sagrada, com folhas da jurema branca, rapadura, e outros mistérios, e serve para curar males físicos do corpo e ´´e usada em rituais sagrados do Catimbó. A Jurema preta, é usada para lavar feridas infectadas e assim cicatrizá-las. O fumo utilizado é de charutos nobres, e o macaia às vezes somente para curas externas.As rezas são variadas, e mesa sempre com muita fartura, sob a égide do Patrono Santo Antonio. Dentro do catimbó encontramos também um pouco de XAMANISMO. Mas o que é Xamanismo? É um caminho, uma forma de religião dos nossos Irmãos Índios Ameríndios, que buscam a cura das pessoas através das plantas, rezas, ervas e banhos. O Catimbó e o Xamanismo são parecidos em alguns aspectos e comungam de fatores iguais: - Deus e a Natureza. O Xamanismo é principalmente praticado pelos Indios Amerindios. Claro que o Catimbó e o Xamanismo tem fatores que aproximam o homem da natureza , do seu interior e de Deus.


Sincretismo no Catimbó

As diversas correntes

Não se pode no Brasil falar em religiões puras. O sincretismo entre correntes religiosas é a regra e não um privilégio.
Consideremos sincretismo a unificação iu fusão de diferentes cultos e doutrinas com a reinterpretação de seus elementos.
Negros, indígenas e europeus fundiram-se no Catimbó. A concepção da magia, processos de encantamento, termos, orações, são da bruxaria ibérica, vinda e transmitida oralmente.

A terapêutica vegetal é indígena pela abundância e proximidade, além da tradição médica dos pajés. O bruxo europeu também já trazia o hábito e encontrou no continente a fartura de raízes, vergônteas, folhas, frutos, cascas, flores e ainda a ciência secular aborígene na mesma direção e horizonte. A convergência foi imediata.




Influência do Negro

Com o negro africano houve fenômeno idêntico. Apenas quando arredado do eito da lavoura açucareira, velho, trêmulo e sempre amoroso, assumiu posição mais decisiva como Mestre orientador e dono dos segredos. Pelo simples fato de viver muito, existe, espontaneamente, um sugestão de sabedoria ao redor do macróbio. Quem muito vive, muito sabe. O diabo não sabe por ser
diabo, mas por ser muito velho. Velhice é sabedoria. O saber, tendo como base experiências acumuladas, mantém-se na memória popular como o melhor e lógico. Doutor novo, experimenta. Doutor velho, trata. O negro escravo, de carapinha mudando de cor, representava um indiscutido prestígio misterioso: negro quanto pinta, tem três vezes trinta. O “negro-velho” era assombroso “faz
medo a menino”, curador, rastejador, vencendo o veneno da cobra, da faca fria e da bala quente.

Angolas, Benguelas, Canbindas foram os nossos Pais Pretos, Negro do Congo, Pai Angola, Negro de Luanda, vivos nas estórias populares, anedotários, feitiços. Bantos são topônimos negros do Rio Grande do Norte, cafuca, cafundó, cafunga, cassangue, catunda, massagana, mocambo, zumbi, buíque, cabugá. Foram armados depressa, subindo na fama coletiva. Deram armas,
mucamas, amas-de-leite, mães pretas, xodós dos senhores de engenho, dor de cabeça da Senhora Dona, fidalgas e preferidas.

Os maiores Mestres de Catimbó foram negros e ainda o são, em maioria absoluta, mestiços e mulatos. Do cerimonial das macumbas dos bantos, o Catimbó mantém as linhas, significando a procedência dos encantados, nações, invocação dos antigos negros valorosos. Em função disso podemos considerar como comum, além dos mestres a presenças de pretos velhos trabalhando no Catimbó.




Cultos mágicos assemelhados

Terecô.

È a denominação dada à religião afro-brasileira tradicional de codó. Além de muito difundido em outras cidades do interior e na capital maranhense, o terecô é também encontrado em outros estados da federação, integrado ao tambor-de-mina ou a umbanda.
Em Codó tanto no passado como na atualidade alguns terecozeiros ficaram também famosos realizando trabalhos de magia por solicitação de clientes ávidos por vingança, de políticos ou de pessoas dispostas a pagar por eles elevadas somas o que lhe valeu fama de terra do feitiço. Afirma-se que neste trabalhos e práticas terapêuticas os terecozeiros associam à sabedoria herdada de velhos africanos entos indígenas, práticas do Catimbó e da feitiçaria européia e que também apóiam no tambor-de-mina, na
umbanda e na quimbanda que se encontra em expansão no codó.



Cultos mágicos assemelhados

Toré

O Toré de origem ameríndia, onde as pessoas buscam remédios para sua doenças, procuram, conselhos com os cablocos que baixam. O Mestre defuma receita aconselha.
Certamente é o mesmo Catimbó dos arredores dos hrandes cenros nordestinos, onde destituídos de melhores pndições financeiras procuram-no como oráculo, para minorar seus penares e desditas.

No Toré não são invocados espíritos brancos, isto é, espíritos de pessoas que morrera.
No Toré baixam só caboclos e tmbém alguns juremados. Juremado é o que está nos ares, quado ainda vivo bebeu jurema ou ao morrer estava sob uma juremeira.
O juremado é um espírito em caboclizaçãoo que o torna não perigoso.


Rezas do Catimbó

Oração dos três pedidos a Santo Antônio

Esta oração destina-se a recuperar objetos perdidos, lembrar os
esquecidos, casos de justiça e casos amorosos.

Meu glorioso padre Santo Antônio
vós que abrandais as fúrias bravas dos campos,
ps ventos furiosos,
os mares tempestuosos,
fazei o meu pedido.

Neste momento pede-se o que se deseja e reza-se uma ave maria, uma salve rainha e um
creio em deus pai.

Meu glorioso padre Santo Antônio
pelos 3 dias que andaste em
busca do vosso santo breviário,
pela agonia que tivestes
quando o perdeste,
pela alegria que tivestes
quando o achaste, fazei meu pedido.

Neste momento pede-se o que se deseja e reza-se uma ave maria, uma salve rainha e um
creio em deus pai.

Meu glorioso padre Santo Antônio
pela hora que o anjo anunciou
a morte do vosso pai,
martins de bulhões,
pela alegria que tivestes quando
o livrastes,
pelo vosso hábito,
pela primeira missa que celebraste,
pelo vosso batismo,
pelo gosto que destes à
vossa madrinha,
obtende o que desejo.

Meu glorioso padre Santo Antônio
vós que fostes aquele que livrou
o vosso pai, martins de bulhões,
que estava preso ao pé da forca
de Lisboa para morrer enforcado.
Assim espero, meu glorioso
padre Santo Antônio,
por alma de vossa tia e madrinha
que me mostres este milagre,
por nosso senhor Jesus Cristo,
Amém!

Neste momento rezam-se 5 ave marias, cinco pai nossos e cinco glória ao pai.

Rezas do Catimbó

Oração para abrir os caminhos urgentemente

Deus saiu eu saí.
Deus andou eu andei,
Deus achou eu achei.

Assim como à Nossa Senhora não
faltou leite para o seu bento filho,
pois a mim não faltará o que eu
quero arranjar.

Pelo sangue que Jesus derramou no
calvário e pelas lágrimas que vós
derramastes ao pé da cruz,
não ha de faltar o que sair a procurar.

Logo ao término desta oração, rezam-se um pai nosso, uma ave maria e uma salve
rainha, até Nos mostrai.

Logo ao término desta oração, rezam-se um pai nosso, uma ave maria e uma salve
rainha, até Nos mostrai.


Oração à Santa Barbara

Esta oração é para abrandar as forças dos inimigos

Santa Barbara, lei divina,
pela lei tão estimada, desde a
hora em que nasceu, que por Deus
foi esposada. Teu pai como gentil sonhava e dizia que Bárbara era
Santa e ao céu subia.
Mandou fazer um ermo,
onde não entrasse o sol nema a lua,
nem a claridade nenhuma.
No fim de sete anos pai foi visitar. “De quem sois, Bárbara, esposada?”
“de Jesus, pai de minha alma”.

Ela marchou, quis degolá-la;
ela não quis consentir;
desceu um anjo do céu e disse:
“consente, Bárbara, consente.
Que tu aos céus subirás em festa,
e o fogo, inimigos e o relâmpago, tudo vós abrandareis”.




Oração Sonho de São Pedro

Esta oração destina-se a sonhar com o que se quer saber.

Meu Glorioso São Pedro
Apóstolo de meu senhor Jesus Cristo,
Confessor da virgem maria.

Meu glorioso São Pedro, vós quando
pelo mar vermelho passaste
ouviste um galo cantare uma
voz por vós chamar.

Pedro..., Pedro..., Pedro...,
Recebe estas chaves que te enviaram.

Pois meu Glorioso São Pedro
assim como estas palavras foram
ditas e ouvidas, assim eu quero que me mostres em sonhos o que desejp
ver, visível e bem visível

[ Neste momento faz-se o pedido do que se deseja ver ]


Ao término desta oração, reza-se uma salve rainha até “...nos mostrai.”

Este é um trabalho de pesquisa sobre o catimbó, uma forma de expressar a religiosidade do nordestino(a) de uma forma muito natural que lhe é peculiar, a fé.
Agradeço a todas as fontes que me ajudaram neste trabalho para o benefício de todos aqueles que amam o catimbó.
Principalmente ao Site: www.catimbó.com.br

Mestre Melqui

A Recriação Contemporânea de um Mito

A Recriação Contemporânea de um Mito



por Marcelo Bolshaw Gomes



Dentre os estudos da antropologia brasileira, a Jurema ocupa um lugar singular. O próprio termo comporta denotações múltiplas, que são associadas em um simbolismo complexo. Além do sentido botânico (1), a palavra Jurema designa ainda pelos menos três outros significados:

Preparado líquido à base de elementos do vegetal, de uso medicinal ou místico, externo e interno, como a bebida sagrada, "vinho da Jurema";

cerimônia mágico-religiosa, liderada por pajés, xamãs, curandeiros, rezadeiras, pais de santo, mestras ou mestres juremeiros que preparam e bebem este "vinho" e/ou dão a beber a iniciados ou a clientes;

Jurema sendo igualmente uma entidade espiritual, uma "cabocla", ou divindade evocada tanto por indígenas, como remanescentes, herdeiros diretos em cerimônias do Catimbó, de cultos afro-brasileiros e mais recentemente na Umbanda.

Para o professor José Maria Tavares de Andrade (2), esse “complexo semiótico” chamado Jurema, representa até hoje, na polissemia deste termo, um ponto de vista e uma resistência étnica dos nordestinos autóctones, “um fio condutor de um traço cultural, distintivo do componente indígena da cultura popular, regional e nacional.”

Numa primeira fase da colonização, a resistência dos povos indígenas no Nordeste não permitiu que a Jurema, enquanto árvore sagrada, fosse conhecida em seus usos e significados, não sendo assim documentada pelos colonizadores e estrangeiros. Numa segunda fase histórica a Jurema representa um elemento ritual ligado à própria resistência armada dos povos indígenas ou à guerra empreendida contra inimigos inclusive em suas alianças. Ainda nesta fase, na qual a Jurema começa a ser documentada, seu significado ainda não é entendido, mas seu uso já é motivo de repressão, prisão e morte de índios, (...). Na medida em que avança o rolo compressor da colonização, processo de genocídio ou tentativa de dominação, não só política e econômica como também cultural, aparece uma nova forma de resistência: a Jurema assume um lugar central na religiosidade popular, não só indígena regional - Catimbó. Diante do componente negro, a Jurema garante seu reconhecimento, como entidade (espírito,
divindade, cabocla) autóctone, "dona da terra". A Jurema é absorvida pelos cultos afro-brasileiros, tendo surgido inclusive os "Candomblés de Caboclos".

Nas últimas décadas, é no contexto da Umbanda, religião nascente e em pleno processo de sistematização e de expansão nacional, que a Jurema é integrada na cosmologia sagrada, no panteão da religião nacional. Constatamos em vários estados nordestinos as "Linhas da Jurema", dentre as linhagens e filiações religiosas da Umbanda. Nesses últimos anos, e paralelo ao movimento religioso propriamente brasileiro, a Jurema continua como "núcleo duro", segredo, bandeira ou símbolo, para os remanescentes indígenas, em pleno "movimento étnico", num contexto de defesa de seus direitos humanos, de suas áreas de reservas e de sua autonomia e reconhecimento no pluralismo da sociedade e das culturas brasileiras (3).

Não é difícil entender porque a Jurema seria sagrada para os índios nordestinos antes da chegada dos brancos. Segundo Andrade, “enraizamento lingüístico do termo Yu'rema na língua tupi é um forte indício de que o uso primordial, inclusive cerimonial do vinho da Jurema, além de ser herança da cultura indígena, regional, certamente já existia antes da presença dos colonizadores”.

Além de seu caráter alucinógeno (4) e do seu comprovado uso nas guerras e ritos de passagem, a Jurema, enquanto planta, desempenha um papel central no ecossistema semi-árido das caatingas nordestinas: durante os longos períodos de estiagem, quando a paisagem do sertão fica cinza e vermelho, apenas ela e o cacto do mandacaru resistem verdes e com reservas de água.

Na verdade, no auge da estiagem, a casca da Jurema seca enquanto seu interior permanece viçoso. Quando a chuva volta, a casca seca cai e a árvore reaparece jovem. Esse fenômeno dá margem a uma longa mitologia de lendas e cantos envolvendo os ciclos de sazonalidade e morte/renascimento. Mas, ao contrário do mandacaru, do qual o sertanejo pode extrair água durante a estiagem, a água da Jurema é completamente inacessível ao uso humano. No caso da Jurema, a existência de água atrai a presença de pequenos insetos e de vários níveis de pequenos predadores da cadeia alimentar do ecossistema do sertão. As cobras são habituais no juremal, tanto pela existência farta de seu alimento como pela proteção dos galhos espinhosos, impossibilitando o trânsito de animais maiores.

Este fato deu margem a uma extensa mitologia popular, cantada em pontos e chamadas tradicionais, em que as cobras protegem espiritualmente a árvore, assim como essa com seus espinhos protege os seus répteis guardiões. Assim, centro da resistência da vida orgânica à seca, em torno do qual todo ecossistema ‘não-humano’ (na verdade, não-mamífero) da caatinga gravita, a Jurema reina no sertão nordestino, desde tempos imemoriais, às margens de qualquer socialização: trata-se apenas um local perigoso e cheio de tabus, sob múltiplos aspectos (5).

Não é difícil entender porque a planta deveria ser considerada sagrada para as tribos do sertão, antes da chegada dos colonizadores. Mas, o fato é que a sacralidade da jurema foi uma identidade étnica historicamente construída em segredo durante a colonização por tribos litorâneas que não tinham a mesma tradição. Andrade argumenta que, durante o início da colonização, o uso da Jurema foi tolerado e aceito pelos portugueses católicos quando era canalizado para lógica de guerra contra invasores franceses e holandeses, enquanto seu uso religioso era condenado como feitiçaria. Há vários registros históricos (século XVI e XVII) sobre a eficácia militar dos guerreiros-juremeiros. Esta dupla permissão/condenação favoreceu uma expansão secreta e silenciosa da Jurema, levando o uso da bebida a ser conhecida pelas tribos amazônicas do Maranhão.

E foi assim, neste contexto contraditório, que a Jurema se firmou como prática étnica indígena e se miscigenou com os cultos africanos. E não se trata de reduzir a planta a um ‘espírito’ de uma jovem cabocla como conhecemos na Umbanda contemporânea: o candomblé africano reconhece a Jurema como orixá, o único genuinamente brasileiro. É a Nação da Jurema. A Jurema chegou ao império como uma forma religiosa de resistência cultural bastante complexa, mantendo viva seu caráter guerreiro e marginal e conheceu ainda um novo ciclo de religiosidade popular - o dos mestre da jurema no Catimbó nordestino, que, até a primeira metade do século XX se utilizam para desfazer feitiços e encantamentos no Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte.

A partir deste quadro, muitas perguntas impossíveis de serem respondidas podem ser formuladas: O que aconteceu com a Jurema? Como ela se transformou de prática xamânica, desta manifestação étnica-popular secreta dos índios e negros em uma simples ‘cabocla da linha de Oxossi’, sem qualquer relação com a planta e seu consumo? Como uma tradição tão significativa desapareceu assim sem deixar vestígios?

Porém, só entenderemos o verdadeiro significado da Jurema, o motivo principal de sua 'sacralidade', as causas de seu misterioso desaparecimento e sua reconstrução mítica na pós-modernidade, se a relacionarmos com toda discussão contemporânea sobre 'entheogênesis'. E é isto que tentamos a seguir.

ENTHEOGÊNESIS

Entheogênesis significa 'origem divina' (Theo = Deus, Gênesis = Origem). A palavra 'entheógenos', no entanto, surgiu em contraposição a denominação de 'alucinógenos' para designar a utilização de substâncias químicas com finalidades místicas, religiosas ou cognitivas. Segundo seus defensores a denominação de 'alucinógeno' para as substâncias químicas de feito psíquico, que provocam mudanças nos estados de percepção e consciência é preconceituosa, pois embute o sentido de entorpecimento e alienação.

A partir daí há dois sentidos possíveis:

A) A hipótese de que foi a ingestão de cogumelos alucinógenos que despertaram a consciência nos macacos.

B) A enteogênesis é o uso não alienante das drogas - como prescreveram vários pensadores da Contracultura. Timothy Leary, entre outros menos famosos, defendia o caráter revolucionário da experiência psicodélica através de drogas. Para Leary, os estados alterados de consciência provocavam mudanças existenciais profundas, transformações na personalidade, tornando as pessoas mais conscientes de si.

Também Carlos Castanheda, antropólogo convertido ao sistema de 'feitiçaria tolteca', iniciou-se nessa tradição através da utilização das 'plantas de poder', principalmente a Datura (a 'Erva do Diabo') e o Peyote (o 'mescalito'). A droga aqui é utilizada para romper com a descrição ordinária da realidade, com a percepção cotidiana de mundo, como uma forma de se sentir presente em outros universos dimensionais.

A droga alucina e cura, equilibra e enloquece, maravilha e vicia. É um paradoxo, um dispositivo de funções aparentemente contrárias. Entre os autores brasileiros que pensaram a questão das drogas dentro de uma perspectiva foucaultiana dos modos de sujeição, Edson Passetti (6) é talvez quem melhor coloque o papel central deste dispositivo na sociedade contemporânea.

A droga é pensada como produto médico para recolocar um indivíduo dentro da normalidade social. É também alucinógeno capaz - quando usado fora do espaço de confinamento - de fomentar ou gerar no indivíduo distorções em sua personalidade. De ambos os lados, a droga afeta a chamada alma do sujeito, quer recuperando-a quer perdendo-a. Assim, dentro da mais perfeita ordem das coisas, a droga é doença e cura, crime e lei, cujo uso é regulamentado por órgãos governamentais.

(...) A relação droga e alma, essa coisa que pode ser racionalmente capturada, organizada e disposta para que o indivíduo possa viver uma suposta plenitude terrena, que as religiões não fornecem - e justamente por esse princípio contribui para a reprodução da religião -, visa combater o desprezível no interior e no exterior do indivíduo, retificando partes ou o todo. (pp.56-57)

Com o pesquisador Terence McKenna, o caráter cognitivo das drogas e da experiência psicodélica na contracultura vai se tornar uma 'etnofarmacologia', isto é, em um estudo sistemático das tradições de consumo de entheógenos. McKenna - autor de diversos livros sobre drogas e religiosidade contemporânea (7) - retoma a associação entre a utopia social e os estados de consciência quimicamente alterada (proposta por Charles Baudelaire e Aldous Huxley) e desenvolve ainda a idéia de que nossa experiência com o sagrado deriva do consumo de substâncias químicas e a combina com a hipótese Gaia e com um desconcertante arsenal de perguntas:

"Estaríamos ainda evoluindo as leis eternas da natureza? Existiria um reino além do espaço e do tempo que asseguraria os padrões e as condições de criatividade e de organização, e o processo evolutivo emergente - ou o universo se construiria a si mesmo à medida que fosse caminhando? As causas das coisas estariam no passado ou no futuro? Haveria algum Objeto hiperdimensional, que nos atrairia para a frente ? Seria a história apenas uma sombra que a escatologia projeta atrás de si? Seríamos nós, os seres humanos, os imaginadores ou os imaginados? Ou seria a história, de certo modo, uma co-criação - uma parceira instável, cronicamente evolvente e pusilânime entre nós mesmos e o Fazedor de Padrões hiperdimensionais? Seriam os vegetais visionários nossos potenciadores e nossos guias; e seria a teo-botânica a chave de tudo isso? Seria o caos meramente caótico, ou abrigaria a dinâmica de toda a criatividade? Que conexão existiria entre a luz física e a luz da consciência? Como transporíamos
nossos limites fundamentais a fim de ingressar numa nova fase de aventura humana?" (8)

Porém, o certo é que, a partir do advento 'Terence McKenna', há todo um movimento em curso sobre essa história de Entheogênesis. Atualmente, na internet, tanto encontramos páginas dos grupos religiosos ligados a tradições xamânicas com a Ayahuasca (9) quanto de psiconautas e estudiosos. (10)

É bem verdade que as idéias do movimento entheógeno estão dando margem para toda sorte de teorias delirantes. Para alguns, por exemplo, o cogumelo entheogênico seria apenas o corpo físico de um ser vindo de outro planeta para colonizar a terra, um veículo biológico da memória arcaica. Por outro lado, é claro que os grupos tradicionais discordam dos psiconautas. E sobre isso há debate interessante ainda em curso. Alex Polari do Santo Daime brasileiro, por exemplo, escreveu Seriam os Deuses Alcalóides?

Mas, a verdade é que o próprio crescimento dos grupos tradicionais em progressão geométrica a nível internacional (que usam subtâncias químicas através de plantas de poder - Ayahuasca, Peiote, San Pedro) se deve ao movimento entheógeno e que este, muitas vezes, acaba influenciando e modificando bastantes aqueles - como em relação a Jurema. No artigo A Jurema em Regime de Índio (11), podemos observar o contraste de alguns aspectos simbólicos desta reconstituição do uso cerimonial da Jurema em um contexto religioso contemporâneo e entre seu contexto tradicional.

E hoje é mais fácil encontrar trabalhos espirituais com a utilização da Jurema na Europa que nas caatingas do nordeste brasileiro. Vivemos um processo de reconstrução mítica globalizada, em que um símbolo/substância química de nossa consciência étnica está sendo reimportada e reinventada em um contexto contemporâneo.

NOTAS

(1) Etnobotanica da Jurema: Mimosa tenuiflora (Will.) Poiret (=M. hostilis Benth.) e outras espécies de Mimosáceas no Nordeste-Brasil.

(2) Doutor em Antropologia, GERSULP, Strasbourg. Ming Anthony, Muséum National d'Histoire Naturelle, Paris.

(3) ANDRADE, J. M – Jurema: da festa à guerra, de ontem e de hoje.

(4) A Jurema tem D.M.T. (Dimetril TriptaMina), o mesmo alcalóide psicoativo da Ayahuasca, bebida xamânica utilizada pelos índios da Amazônia Ocidental e, mais recentemente, pelas seitas religiosas do Santo Daime e da União do Vegetal. Sobre o uso dessa substância em diferentes contextos, consulte DMT World's.

(5) Ressalte-se, inclusive, o próprio preconceito dos antropólogos nordestinos com o tema.

(6) PASSETTI, E. Das 'Fumaries' ao Narcotráfico. São Paulo, EDUC, 1991.

(7) MCKENNA, T. - 'Alucinações Reais', 'Alimento dos Deuses' e 'Retorno à cultura arcaica' Rio de Janeiro: Record/Nova Era, 1993, 1995 e 1996. Em inglês, há ainda os livros em parceria com seu irmão Dennis McKenna, The Invisible Landscape e Psilocybin: The Magic Mushroom Grower's Guide.

(8) MCKENNA, T. 'Caos, Criatividade e o retorno do Sagrado - triálogos nas fronteiras do Ocidente' (em conjunto com Ralph Abraham e Rupert Sheldrake) São Paulo: Cultrix/Pensamento, 1994.

(9) Mais informação sobre Ayahuasca em: www.ayahuasca.com e http://www.yage.net/

(10) Em um rápido levantamento, além de sites comerciais, descobrimentos duas revistas especializadas (Entheogen.com e Trip Maganize), três bibliotecas virtuais (The Lycaeum, Religion and Psychoactive Sacraments e The Vaults of Erowid), duas ONGs com conotações políticas (The Drug Reform Coordination Network e The Multidisciplinary Association for Psychedelic Studies (MAPS) e uma comunidade virtual (The Island Web).

(11) GRÜNEWALD, R. A. Jurema em ‘Regime de Índio’. Amsterdã: Lycaeum, 1999. A bibliografia sobre Jurema é excelente.

Explicações sobre Jurema

Explicações sobre Jurema, as diversas nuances que permeiam o culto da Jurema Sagrada, o Antigo culto da Jurema e a Jurema mais moderna e digo umbandizada, que é o que se ver muito nos dias de hoje, deixou-se de cultuar aquela Jurema despojada de luxo e brilho para se cultuar uma Jurema de plumas e paetês, vejo que muitos irmãos querem cultuar uma Jurembanda, Jurendomblé e outras invencionices, onde já se viu uma Mestra de Jurema usar salto 15 e vestir brocado com plumas, usar taça de cristal e cigarrilha.
Mestre Melqui



Muita gente confunde: Catimbó, Macumba, Xangô, Candomble e Umbanda. Achando que todas as nomenclaturas tem o mesmo significado. EM outros posts colocamos outras definições..estudaremos aqui, mas algumas.
CATIMBÓ
Catimbó é um conjunto de práticas religiosas brasileiras, oriundas de raiz indígena e com diversos elementos do cristianismo e, dependendo do lugar onde é praticado, influências africanas também notáveis. O Catimbó baseia-se no culto em torno da planta Jurema.
Muitos praticantes minimizam a origem indígena e a influência africana devido ao preconceito que essas culturas sofrem por parte de algumas mentalidades; por esse motivo, tais praticantes sustentam que o Carimbó é somente calcado no cristianismo, o que é uma mentira em absoluto. A influência afro-ameríndia é notada em qualquer reunião de Catimbó no país.
Não há dúvida que o Catimbó é xamanista com muita práticas de pajelança, mas é baseado em Mestres, apesar de os Caboclos também participarem. O Catimbó não é muito diferente ou melhor que outros cultos, e não se pode dizer que suas entidades sejam de nível superior, pelo contrário são semelhantes.
O Catimbó é uma reunião alegre e festiva quando em sua forma de roda (ou gira), mas, pela falta da corrente doutrinária formal vários formatos serão encontrados, dependendo da “ciência”, vidência, maturidade e ética de quem o dirige.
O Catimbó cultua ervas, símbolos e santos católicos, mas se tivermos que caracterizar qual é o principal objeto de culto não há dúvida que são as ervas. O Catimbó tem como principal elemento a árvore da Jurema e todos os Mestres tem um erva de fundamento.
ORIGEM DO CATIMBÓ
O Catimbó é, sem duvida nenhuma, de origem indígena brasileira. Sem voltar às descrições antigas da pajelança e aos primeiros contatos entre o catolicismo e a religião dos índios, inclusive àqueles fenômenos de “santidade” que conhecemos tão bem através das informações do Tribunal do Santo Ofício, sem tentar traçar a genealogia histórica do Catimbó, encontramos ainda hoje entre o puro índio e o homem do Nordeste toda a gradação que nos conduz pouca a pouco do paganismo do Catimbó.
O Catimbó de hoje é o resultado desta fusão da prática pagã inicial dos índios com o catolicismo sobre o qual construiu a base da “ religião” . É impossível dissociar o Catimbó do catolicismo e de outras tradições européias, provavelmente adquiridas dos holandeses, mesmo após as influências que recebeu do Candomblé e do kardecismo.
Podemos considerar que a mesma falta de força étnica que fez com que os índios fossem antropologicamente sobrepujados por outras culturas fez com que o Catimbó perde-se a sua identidade índia original (pajelança) e adquirisse os rituais importados de outras práticas religiosas mais “fortes”. Neste caso contribuiu muito a falta da cultura escrita que fez com que na medida em que os próprios índios eram extintos a prática religiosas Xamanista fosse sendo perdida ou diluída.
Entretanto do Xamanismo original foram preservadas as ervas e raízes nativas como base de todos os trabalhos e na prática da fumigação com fumaça de cachimbos e fumos especialmente preparados o elemento mágico de difusão.
Para o índio, o fumo é a planta sagrada e é a sua fumaça que cura as doenças, proporcionando e êxtase, dá poderes sobrenaturais, põe o pajé em comunicação com os espíritos.
Os primeiro elementos do Catimbó que devemos lembrar é o uso da defumação para curar doenças, o emprego do fumo para entrar em estado de transe, a idéia do mundo dos espíritos entre os quais a alma viaja durante o êxtase, onde há casa e cidades análogas às nossas. A grande diferença é que a fumaça na pajelança é absorvida, enquanto no Catimbó ela é expelida. O poder intoxicante do fumo é substituído aqui pela ação da jurema.
O Catimbó se desenvolveu diferentemente no interior e no litoral, nas capitais. As influências de outras práticas religiosas mais fortes em cada um deste locais acabam determinando o formato do Catimbó. Podemos dizer que quanto mais para o interior mais simples ele será devido a menor influência das religiões africanas.
Os caboclos podem ser vistos no Catimbó, mas, não são eles a base ou o objetivo principal. Catimbó trabalha através de Mestres.
Como já citado o fato de entidades típicas de Umbanda aparecerem no Catimbó devido a origem do médiuns e ao fato de existir uma entidade comum chamada de Zé Pelintra faz com que se imagine que Catimbó seja uma forma de Umbanda no Nordeste, mas não é. Muito se tem pesquisado sobre a origem do Zé Pelintra da Umbanda no Catimbó, uma vez que esta é uma entidade urbana que nada tem nada com a origem dos mestres.
Tudo no Catimbó se faz com a linha de licença, onde se fala, sisudamente: “Com o poder de Jesus Cristo, vamos trabalhar”. Das centenas canções recolhidas no arquivos catimbozeiro, nenhuma alude a um encantado e infalivelmente a Deus, Santíssima Trindade, Santos, às almas. Só encontrei duas que se dirigiam às estrelas e ao sol. O espírito é religioso, formalístico, disciplinado, respeitoso da hierarquia celestial. Ninguém numa Macumba ou terreiro de Candomblé, admite licença de Jesus Cristo para Xangô, nem santo católico atende ao chamamento insistente dos tambores.
Catimbó não tem Exu e não tem Orixá sincretizado em Santo. No Catimbó Santo é Santo e Mestre é Mestre. Mestre trabalha na direita e a esquerda, faz e desfaz
O CATIMBÓ É O CULTO A JUREMA
O Catimbó é o culto a árvore da Jurema. A jurema é uma árvore que floresce no agreste e na caatinga nordestina. Da casca de seu tronco e de suas raízes faz-se uma bebida mágico sagrada que alimenta e dá força aos “ encantados do outro mundo” . Acredita-se também que é essa bebida que permite aos homens entrar em contato com o mundo espiritual e os seres que lá residem, mas o Catimbó existe sem que seja necessário fazer ou beber a Jurema, Catimbó não é Santo Daime. Tal árvore é símbolo e núcleo de várias práticas mágico-religiosas de origem ameríndia. De fato, entre os diversos povos indígenas que habitaram o Nordeste, se fazia e em alguns deles ainda se faz o uso ritual desta bebida.
Este culto se difundiu dos sertões e agrestes nordestinos em direção às grandes cidades do litoral, onde elementos das outras matrizes étnicas entraram em cena. Desse modo, o símbolo da árvore que liga o mundo terreno ao do além, embora amarga (muito amarga…), dá sapiência aos que dela se alimentam, ganha novos significados, surgindo um mito com traços cristãos. Neste sentido a Jurema surge como a árvore que escondeu a “ sagrada família” dos soldados de Herodes, durante a fuga para o Egito, ganhando desde então suas propriedades mágico religiosas.
Ainda nessa perspectiva, juntaram-se na constituição desta forma de religiosidade popular outros elementos de origem européia como a magia e o culto aos santos do catolicismo popular.
A referência a Jurema que é feita nos pontos de Umbanda são relativos a Cabocla Jurema e não a erva propriamente dita, é o Catimbó que tem a erva Jurema como o centro e principal elemento de seu culto.
O Mito, o preconceito e o erro na definição
Para muitos que freqüentam centros de Umbanda e terreiros de Candomblé, o Catimbó é sinônimo da prática ou seja da macumba em sí. Para outros, de Umbanda, trabalhar no Catimbó está associado ao uso de forças e energias de esquerda ou negativa. Esta é uma visão equivocada.
Qualquer prática mágica pode ser usada com qualquer finalidade, mas, o objetivo do Catimbó é a evolução dos seus Mestres através do bem e da cura. Se o mal é feito, isto pode ocorrer pelo erro do médium ou pela necessidade de justiça a quem pede.
Catimbó é de base religiosa católica e não faz parte das Religiões afro-brasileiras
O Catimbó é uma prática ritualista mágica com base na religião católica de onde busca os seus santos, óleos, água benta e outros objetos litúrgicos. É também uma prática espírita que trabalha com a incorporação de espíritos de ex-vivos (eguns) chamados Mestres e é através deles que se trabalha principalmente para cura, mas também para a solução de alguns problemas materiais (como na Umbanda) e amorosos, mas, é importante destacar que a prática da cura é a principal finalidade.
Não se encontra no Catimbó, nas suas práticas e liturgias os elementos das nações africanas de forma que classificar o Catimbó como uma seita afro-brasileira é um erro. Mestres não se subordinam a Orixá e fora o aspecto de que certamente ele é, também, praticado por negros não existe outra relação direta com a religião africana.
Para aqueles que consideram o Catimbó afro-brasileiro eu apenas pergunto: Onde estão os elementos Afro-brasileiro?
De fato a mitologia e teogonia do Candomblé é rica e complexa, a do Catimbó é pobre e incipiente, seja porque a antiga mitologia indígena perdeu-se na desintegração das tribos primitivas, na passagem da cultura local para a cultura dos brancos, que estavam dispostos a aceitar os ritos, porém não os dogmas pagãos, na sua fidelidade ao catolicismo – seja porque o Catimbó foi, mais, concebido como magia do que como religião propriamente dita, devido sobretudo aos elementos perigosos e temíveis e às perseguições primeiro da igreja e depois da polícia.
Além dos dogmas da religião católica o Catimbó incorpora componentes europeus como o uso do caldeirão e rituais de magia muito próximos das praticas Wiccanas. Tanto dos europeus como dos brasileiros o uso de ervas e raízes é básico e fundamental nos rituais. Cada Mestre se especializa em determinada erva ou raiz.
Não existe Catimbó sem santo católico, sem terço, sem água benta, sem reza, sem fumaça de cachimbo e sem bebida, que pode nem sempre ser a Jurema (como já foi dito Catimbó não é o Santo Daime).
Mediunidade e incorporação
Sob o ponto de vista espiritualista a incorporação mediúnica pode ser considerada de baixa energia, no sentido de não ser profunda, mas, não que falte qualidade. Os Mestres são entidades que guardam muito os reflexos, comportamento e personalidade de sua última vida de forma que os torna muito caracterizados e ligados na caracterização física.
O uso de bebida e fumo é comum e difundido, não existe Catimbó sem isso. Entretanto esta ligação fortemente carnal, faz dos Mestres entidades muito alegres, naturais e espontâneos, muito diferentes das entidades fortemente, às vezes grotescamente, teatralizadas da Umbanda.
Não existem Mestres do bem ou do mal. Os Mestres tanto podem trabalhar para o bem como para o mal, diferente a Umbanda que especializa as entidades. Os feitiços do Catimbó são mais temidos do que a Quimbanda, mas, não quero aqui iniciar uma polêmica, porque isso é de importância menor. A magia negra é uma corrruptela da magia e pode ser praticado por qualquer um. Não existe necessidade de se estar na Umbanda ou no Catimbó para se fazer magia negra. Ela existe desde o início dos tempos e está associada a índole de quem a faz. Assim dependo da orientação da casa e do medium os mestres poderão trabalhar para o mal, para a reparação, para a vingança ou para a justiça, como se queira denotar. Quem faz o mal precisa apenas de um motivo ou justificativa qualquer. Mas os Mestres são pau para toda a obra.
Eventualmente a presença no Catimbó de ex-Umbandistas vai trazer com estes as suas entidades de Umbanda que irão trabalhar dentro do Catimbó, mas, isso não faz do Catimbó uma Umbanda, como também não se vai impedir que entidades de Umbanda que já pertençam aos médiuns trabalhem nas rodas de Catimbó. O Catimbó existe sem a Umbanda apesar de como estas ir se incorporando, eventualmente, de entidades e práticas.
É importante compreender que diferente da Umbanda e do Candomblé os Mestres não respondem a Orixás ou falangeiros. A Jurema tem sua própria hierarquia e Mestres respeitam outros Mestres maiores e mais fortes.
Considerar Catimbó uma Umbanda é dar uma conotação preconceituosa, como se tudo o que fosse espiritita fosse Umbanda ou tudo o que envolvesse negros e mulatos ou então gente simples fosse macumba ou afro-brasileiro.
Dito isto, reafirmo, Catimbó não é Umbanda! Os Umbandistas que fiquem com ela. Também não tem nada haver com o Candomblé. Nunca foi ou será Kardecista. Catimbó é Catimbó!
Finalmente não existe padrão para o Catimbó. Cada um tem o seu.
O QUE É O CULTO DO CATIMBÓ?

Catimbó é um conjunto específico de atividades mágico-religiosas, originárias da Região Nordeste do Brasil. Conhecido desde meados do século XVII, o catimbó resulta da fusão entre as práticas de magia provenientes da Europa e rituais indígenas de pajelança, que foram agregados ao contexto das crenças do catolicismo. Conforme a região de culto, influências africanas podem ser notadas, de forma limitada, entretanto.
A Stricto sensu, o catimbó não pode ser considerado uma religião, uma vez que não reúne em sua estrutura elementos doutrinários próprios, como dogmas ou liturgias. Assim, concebe-se o catimbó como um culto, um sistema mágico calcado sobre os preceitos do catolicismo popular. Nas sessões, cultuam-se os santos católicos, a Virgem Maria e Jesus Cristo, bem como as ervas sagradas e a árvore da Jurema, onde se apoia toda a organização do catimbó.
A Jurema (Mimosa hostilis), nativa do agreste e sertão nordestinos, é um arbusto Fabáceo, do qual se fabrica uma bebida psicoativa de mesmo nome. Tal bebida, também conhecida como Vinho da Jurema, é composto por uma variedade de ervas, ao qual se adiciona cachaça ou vinho branco. A ingestão da Jurema, em conjunto com os toques, as cantigas rituais do catimbó, provoca um estado de transe profundo, interpretado pelos Catimbozeiros, como a incorporação dos Mestres da Jurema. Estas entidades espirituais, que supostamente habitariam o Mundo Encantado ou Juremá, teriam sido adeptos do catimbó que, ao morrerem, se "encantaram", ou seja, foram milagrosamente transportados a este estamento espiritual, de onde poderiam atender os vivos pela realização de curas e aconselhamento, desde que para tal fossem requeridos através da incorporação.
Etimologia
A origem do termo catimbó é controversa, embora a maior parte dos pesquisadores afirme que deriva da língua tupi antiga, onde caa significa floresta e timbó refere-se a uma espécie de torpor que se assemelha à morte. Desta forma, catimbó seria a floresta que conduz ao torpor, numa clara referência ao estado de transe ocasionado pela ingestão do vinho da jurema, em sua diversidade de ervas. Outras teorias, porém, relacionam o vocábulo com a expressão cat, fogo, e imbó, árvore, neste mesmo idioma. Assim, fogo na árvore ou árvore que queima relataria a sensação de queimor momentâneo que o consumo da Jurema ocasiona. Em diversos estados do nordeste brasileiro, onde os rituais de catimbó são associados unicamente à prática de magia negra, a palavra ganha um significado pejorativo, podendo englobar qualquer atividade mágica realizada no intuito de prejudicar outrem.
Terminologia
O termo catimbozeiro é usado para designar os adeptos do catimbó, embora, ofensivamente, também possa referir-se a qualquer praticante de magia negra, Candomblé ou Quimbanda. O vocábulo Juremeiro, também pode, embora erroneamente, referir-se aos praticantes de catimbó; entretanto, em linhas gerais, o tratamento é destinado ao indivíduo que, além do culto a Jurema, é devoto dos orixás do panteão africano, integrando, assim, a nação Xambá ou Xangô. Ademais, diversos credos distintos fazem uso dos efeitos psicóticos da Jurema, embora nenhum deles possa, de fato, ser considerados Catimbó.
Origem do culto
O culto à árvore da Jurema remonta a tempos imemoriais, anteriores, inclusive à colonização portuguesa na América. A altura, diversas tribos indígenas da atual Região Nordeste do Brasil, reverenciavam a Jurema por suas propriedades psicoativas, inserido-a em diversos ritos de comunicação com as divindades de seu panteão através do transe, alguns dos quais ainda preservados pelas comunidades da região. O Toré, uma forma específica de culto à Jurema, é, por vezes a única forma de identificação cultural remanescente entre os ameríndios do Nordeste.
Esta variedade de cultos, entretanto, foi severamente reduzida por ocasião do contato europeu, de forma que a tradição da Jurema sagrada teve de ser adaptada aos preceitos católicos, devido à forte repressão colona aos cultos considerados pagãos. Assim, o vasto panteão aborígene foi gradualmente suprimido, sendo adotado, nos rituais da população cabocla, as mesmas deidades do catolicismo tradicional. O culto aos antepassados, porém, por sua grande influência, foi mantido e, ademais, adaptado à realidade dos Mestres da Jurema.
Entidades espirituais
O Catimbó, assim como a maior parte das religiões xamânicas, é considerado um culto de transe e possessão, no qual as entidades, conhecidas como Mestres, se apoderariam do corpo do Catimbozeiro e, momentameamente, tomariam todos os domínios básicos do organismo. Entretanto, diferentemente do que ocorre na Umbanda, onde os espíritos se organizam em direita e esquerda conforme a natureza positiva ou negativa que possuam, os Mestres são relativamente neutros, podendo operar tanto boas quanto más ações. Tais Mestres seriam figuras ilustres do Catimbó, que, quando vivos, teriam realizado diversos atos de caridade por intermédio do uso de ervas e propriedades xamânicas, de modo que por ventura de sua morte, teriam sido transportados a uma das Cidades místicas do Juremá, localizada nas imediações de um arbusto de Jurema plantado pelo Mestre anteriormente a seu falecimento.
Caboclos da Jurema
Subordinados aos mestres, encontram-se as entidades conhecidas como Caboclos da Jurema. Esta forma de espírito ancestral, representa os pajés e guerreiros indígenas falecidos, envidados ao Mundo Encantado de forma a auxiliarem os Mestres na realização de boas obras. Os Caboclos são sempre invocados no início do culto, antes mesmo da incorporação seus superiores. Estes seres espirituais, seriam os responsáveis pela prescrição de ervas medicinais, banhos e rezas que afastariam o mau-olhado e o infortúnio.
Estrutura do Juremá
O universo espiritual do catimbó segue o mesmo padrão estamental do catolicismo (de onde se origina as crenças de céu, inferno e purgatório bastante difundida entre os Catimbozeiros) diferindo, apenas, pela adição do Juremá, onde habitariam os Mestres da Jurema e seus subordinados. Segundo a crença, o Juremá seria composto de uma profusão de aldeias, cidades e estados, os quais trariam um rígida organização hierárquica, envolvendo todas as entidades Catimbozeiras, tais como caboclos da jurema e encantados, sob o comando de um ou até três Mestres.
Cada aldeia tem 3 Mestres. Doze aldeias fazem um estado com 36 Mestres. No Estado ha cidades, serras, florestas, rios. Quantos são os estados? 7 segundo uns: Vajucá, Tigre, Cadindé, Urubá, Juremal, Fundo do Mar e Josafá. Ou cinco ensinam outros: Vajucá, Juremal, Tanema, Urubá e Josafá.
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Postado por Centro Espiritualista de Umbanda Esperança