terça-feira, 12 de abril de 2011

A Capitania do Rio Grande do Norte

A Capitania do Rio Grande

(Por Genilson Medeiros Maia – Aluno do período 98.2)
Capitanias hereditárias
Após três décadas da descoberta do que seria posteriormente chamado de Brasil, Portugal voltou-se para a sua ocupação e conquista, muito mais por medo de perdê-la do que por convicção de ser um bom empreendimento.
O modelo de colonização escolhido foi o de Capitanias Hereditárias, já implantado com relativo sucesso em algumas de suas possessões menores no Atlântico, próximo ao continente africano. A Colônia, então denominada de Santa Cruz, foi dividida em quinze lotes, distribuídos entre doze donatários. A concessão dava-se por meio da Carta de Doação, na qual eram definidos os limites físicos da capitania, e do Foral, no qual eram estabelecidos os direitos e deveres dos beneficiários.
A Capitania do Rio Grande
A Capitania do Rio Grande, com cem léguas, foi doada a João de Barros, feitor das Casas de Mina e da Índia, a qual foi aglutinada com cinqüenta léguas doadas a Aires da Cunha e setenta e cinco léguas doadas a Fernão Álvares de Andrade, perfazendo um total de duzentos e vinte e cinco léguas de terras, cujos limites não são muito claros, em função do desaparecimento da Carta de Doação (CASCUDO, 1984).
O fracasso das primeira tentativas
A conquista do Rio Grande não foi possível por seus donatários em virtude da bravura dos índios Potiguares e dos franceses, esses últimos aqui embrenhados, fazendo exploração clandestina. Duas tentativas de conquista foram feitas pelos seus donatários, sendo a primeira em 1535, comandada por Aires da Cunha, contando com as presenças dos filhos de João de Barros (João e Jerônimo de Barros) e um representante de Fernão Álvares e mais novecentos homens e cem cavalos, armas e munições do próprio arsenal régio, e a segunda, provavelmente em 1555, tendo à frente somente os filhos de João de Barros. As duas tentativas fracassaram e o máximo que conseguiram foi fundar um povoado na ilha do Maranhão, a que deram o nome de "Nazaré", isso durante a primeira tentativa.
A conquista definitiva
Devido a sua localização e a sua extraordinária importância para a conquista do Norte, o Rei retomou a possessão do Rio Grande mediante indenização à família de João de Barros e ordenou ao sétimo Governador Geral do Brasil (l591 - 1602) Dom Francisco de Souza, que providenciasse a expulsão dos franceses e a construção de um Forte para dar início à colonização da Capitania. O trabalho de atacar os franceses e os índios revoltosos coube, por ordem de D. Francisco de Souza, aos capitães-mores de Pernambuco e da Paraíba, Manuel de Mascarenhas Homem e Feliciano Coelho de Carvalho, respectivamente.
A vitória portuguesa
De acordo com a organização estratégica para o ataque, duas frentes foram formadas, sendo que uma avançou por mar, comandada por Mascarenhas Homem e a outra por terra, capitaneada por Feliciano Coelho. O empreendimento foi coroado com êxito e em 06 de janeiro de 1598 foi iniciada a construção do Forte dos Reis Magos, sob os cuidados do jesuíta Gaspar de Samperes e planta de sua autoria. Daí surgiu um povoado que deu origem a Natal e também a base para a conquista da região setentrional brasileira, como um todo.
Sociedade colonial
A sociedade norte-rio-grandense após a conquista pelos portugueses era composta basicamente por três grupos étnicos: os aborígenes servindo como escravos, aldeados ou revoltados, embrenhados no mato, os invasores brancos divididos em homens livres proprietários e homens livres não proprietários e os escravos negros oriundos da África. E por imposição da própria conquista era uma sociedade agrária, na qual, em torno dos homens livres proprietários, gravitavam todas as determinações do local.
Primeira atividades econômicas coloniais
As primeiras atividades econômicas da capitania são marcadamente de subsistência, ancorando-se na pecuária, na pesca e na agricultura de mantimentos. A cultura da cana-de-açúcar nunca obteve tanto avanço aqui, restringindo-se, à época dos primeiros tempos, apenas ao vale do Cunhaú e posteriormente espalhando-se por todo o litoral sul da capitania.
Paralelamente à exploração dessas atividades, fazia-se a exploração do pau-brasil, com encaminhamento direcionado à Coroa.
Em que pese a importância do pau-brasil, da cana-de-açúcar, da pesca, da agricultura etc., a atividade econômica que viabilizou a ocupação definitiva da Capitania do Rio Grande (do Norte) foi a pecuária. De modo que a esta atividade deve-se não só a ocupação mas sobretudo o seu desenvolvimento.
Favor citar da seguinte forma:
MAIA, G. (1998). A capitania do Rio Grande. História do RN n@ WEB [On-line]. Available from World Wide Web:
Referência Bibliográfica
CASCUDO, Luís da Câmara. História do Rio Grande do Norte. 2 ed. Rio de Janeiro: Achiamê; Natal: Fundação José Augusto, 1984.
SUASSUNA, Luiz Eduardo B. & MARIZ, Marlene da Silva. História do Rio Grande do Norte colonial (1597/1822). Natal: Natal Editora, 1997.

Os Potiguares

(Por Genilson Medeiros Maia – Aluno do período 98.2)
A descoberta de um novo mundo proporcionava enfrentar barreiras, vencer desafios, rumar ao desconhecido. Terra... terra farta, terra de ninguém pronta para ser desbravada, conquistada e explorada.
Mas que surpresa! Os portugueses, aqui chegando depararam-se com criaturas "de porte mediano, acima de 1,65cm, reforçados e bem feitos no físico. Olhos pequenos e amendoados como os da raça mongólica, escuros e encovados, de orelhas grandes, cabelos lisos e cortados redondos, arrancavam os pêlos da barba até as pestanas e sobrancelhas. Eram baços, claros, pintavam seus corpos com desenhos coloridos. Furavam o beiço, principalmente o inferior, assim como orelhas e o nariz". (SUASSUNA & MARIZ: 1997, p. 51).
Seus corpos nus expostos ao sol, sob o calor e maresia, demonstravam íntimo contato com a natureza selvagem e hostil. Contrastando com as cores do horizonte e na beleza exótica do lugar, os nativos observavam grandes embarcações com figuras espalhafatosas se aproximarem.
Nesse primeiro contato, os portugueses encontraram um povo que, na escala evolutiva, superava o paleolítico e dava seus primeiros passos na revolução agrícola, quanto à domesticação de plantas de condições selvagens para mantimento de seus roçados, assim como o cultivo da mandioca. Também foram cultivadas outras espécies, como: milho, batata-doce, abóbora, algodão, tabaco, cuias e cabaças, e algumas árvores frutíferas. Para seu cultivo empregavam técnicas e instrumentos rudimentares, como a queimada e a derrubada de árvores com machados de pedra.
Além da agricultura, os indígenas praticavam a caça e a pesca como fonte de alimentação, empregando armas como o arco e flecha com pontas talhadas em pedra. Da mesma forma que eram usados na guerra.
Os homens nativos integravam-se perfeitamente ao meio, mas eram agressivos quanto a outros grupos e viviam em constantes lutas por seu território e lugares sagrados, defendendo sua aldeia.
Festejaram a natureza, as estações, as luas, o sol, a chuva. Dançavam, cantavam em noites de festas, adornados com belas plumagens, em cocares, braceletes e tornozeleiras. Ficando em volta de grandes fogueiras, cultuavam seus mortos, valentes e valorosos guerreiros pedindo sua proteção, junto aos deuses.
Enquanto que os inimigos vencidos e aprisionados eram sacrificados em rituais de antropofagia.
Na cura de doenças, utilizavam de ervas e raízes extraídas da própria natureza. Assim como o uso de entorpecentes pelo Xamãs e Pajés, quando evocavam os deuses para auxiliá-los na luta contra os espíritos do mal.
Falavam o nhe-ê-Katu (língua boa), diferenciando de outros dialetos existentes nas diferentes tribos.
Utilizavam a cerâmica na fabricação de utensílios domésticos. A rede servia para o descanso e a canoa para locomoção e pesca.
Sob o olhar europeu, aqueles nativos selvagens precisavam aprender normas de conduta e suas almas necessitavam de salvação para poderem integrar-se a uma civilização. Civilização essa que desprezara sua cultura, crenças, tradições interferindo no curso de suas vidas cotidianas.
Foi de relevante importância a missão dos padres junto aos indígenas quanto à catequização, resultando em acordos de paz, ansiados por ambas as partes.
Nesta jornada destaca-se a figura de Francisco Pinto, "apóstolo da paz", que através da catequese conseguia levar os nativos para o lado dos portugueses. Assistindo-os em suas necessidades.
Entre os nativos, Felipe Camarão revela-se como grande aliado dos portugueses, juntamente com seus comandados, destacando-se na luta contra os holandeses e seus aliados.
A participação dos potiguares também é registrada na guerra dos bárbaros ou Confederação dos Cariris, em que se rivalizavam com os Tapuias. Pois não era possível essa homogeneidade entre tribos de diferentes línguas e costumes.
As rivalidades existentes entre tribos, o domínio português e a presença de negros, contribuiu para que houvesse sincretismo de culturas, onde o índio perdeu seu espaço e território. Com isso, sua história é de difícil acesso, ficando diversas indagações sobre origens e evolução cultural, pois a presença do português e da catequização contribuíram para um direcionamento na visão histórica, a partir do momento que sentiram necessidade de integrá-los ou combatê-los, de acordo com seus interesses.
Favor citar da seguinte forma:
ARAÚJO, F. das C. de S. O. ; SILVA, F. V. da; MACÊDO, M. das V. de A. & SILVA, M. E. da. Potiguares. História do RN n@ WEB [On-line]. Available from World Wide Web:
Referências Bibliográficas
RIBEIRO, Darcy. O Povo Brasileiro. A formação e o sentido do Brasil. 2a ed. 4a reimpressão. São Paulo. Companhia das Letra,s 1996.
SUASSUNA, Luiz Eduardo B; MARIZ, Marlene da Silva. História do Rio Grande do Norte Colonial (1597/1822) Natal; 1997.
Tapuias

Por Ednilda da Silva Oliveira; Maria Auricéia de Morais; Eliete Dantas de Medeiros e Maria de Lourdes Pereira de Medeiros – Alunas do período 99.2 )
Aspectos histórico-geográfico dos Tapuias
Os Tapuias, também conhecidos por "Bárbaros", habitavam, dentre outras regiões, os sertões da Capitania do Rio Grande. Dividiam-se em vários grupos nomeados de acordo com a região onde moravam – Cariris (Serra da Borborema), Tarairiou (Rio Grande e Cunhaú), Canindés (no sertão do Acauã ou Seridó). Eram chefiados por vários reis e falavam línguas diversas. Merecendo destaque os reis Janduí e Caracará.
Caracteísticas Físicas dos Tapuias
Os homens apresentavam-se corpulentos, possuidores de grande força física. A pele queimada, em tons de marrom. Usavam cabelo longo ao sabor do vento. Não costumavam usar roupas. Eram desprovidos de pêlos por todo o corpo. Apesar de andarem nus, cobriam as partes íntimas com peças feitas de materiais rudimentares, extraídos da natureza. Em contra partida, as mulheres apresentavam estrutura física pequena, mas a cor era a mesma da dos homens. Costumavam manter os cabelos curtos ou longos, de corpos rechonchudos. Também escondiam suas partes íntimas. Adornavam seu corpo com o que encontravam na natureza – Penas de aves, folhas de plantas nativas, raízes, utilizavam-se de pedaços de paus para fazerem brincos, colares e outros. Utilizavam-se de tais enfeites tanto para a prática das danças, como na preparação para a guerra.
Rituais de Vida e Morte
Os Tapuias, por vezes, atingiam aproximadamente dois séculos de vida. Quando isso acontecia eram homenageados por sua tribo. Isto quando do sexo masculino - se do sexo feminino, ao darem à luz a mais de um filho, tornavam-se cativas. Estando doentes são visitados pelos amigos e se o caso de morte, matavam-nos para que não houvesse sofrimento. A causa mais freqüente de óbito entre os Tapuias era o veneno de cobra. Eram endocanibalistas, devoravam até mesmo os de sua tribo, quando da sua morte.
A Vida Amorosa dos Tapuias
A puberdade era o período em que a donzela estaria pronta para casar-se. A virgindade era bastante valorizada. O namoro, acontecia entre danças, onde eram escolhidos os pretendentes. No noivado, o pretendente oferecia presente ao sogro. Quando a donzela não arrumava pretendente, era levada ao rei e este a possuía.
Os jovens tinham que demonstrar valor pessoal, exibindo força física. O rei aprovava a cerimônia e quando esta se realizava, furavam-se as faces dos noivos e colocavam pauzinhos. A festa durava cinco dias. Os matrimônios eram severos, apesar da poligamia, mas as cerimônias eram reservadas às primeiras esposas. Possuir várias mulheres era sinal de prestígio. O adultério era raro, e o marido expulsava a ré, depois de açoitá-la, no caso do flagrante e poderia matá-los. Sobre os tapuias cariris, eram praticantes do adultério, e era recíproco.
Da Gravidez, do Parto e das Crianças
A Índia, quando grávida, não tinha relações com o marido, também enquanto amamentava. A tapuia dava à luz nas matas, cozia o umbigo e a placenta e comia. Quando voltava ao acampamento, o filho era cuidado por outra mulher. Os maridos tinham o mesmo resguardo da parturiente. Esta se alimentavam de farinha de mandioca, milho, feijão, até o nascimento dos dentes dos lactentes. Os nascidos mortos eram devorados pelos tarairiús. As crianças começavam a andar com nove semanas e aprendiam a nadar nesta mesma época. Entre sete e oito anos eram furados o lábio inferior e as orelhas e colocados ossos e paus, depois eram batizados, ficando aptos para as lutas.
Ferocidades, Armas e Lutas dos Tapuias
Os Tapuias possuíam semblante ameaçador, corriam igual as feras, por isso eram muito temidos. Eram inconstantes, fáceis de ser levados a fazer o mal. Eram fortes, carregavam nos ombros grandes pesos. Ao irem para guerra, marchavam em silêncio, mas no embate faziam bastante alarido, jogando setas envenenadas das quais os feridos jamais escapavam.
Foram úteis, como aliados dos holandeses, conduzindo aos lugares mais difíceis. Os tapuias que se destacavam nas lutas eram considerados heróis.
O poder real não era hereditário, este era substituído quando morto. O rei distinguia-se dos outros pelos cabelos e pelas unhas. Os tapuias eram muito obedientes ao rei.
Os tapuias se enfeitavam da cabeça aos pés para as lutas. Suas armas eram as flechas, as pranchetas, arcos e dardos, que usavam com grande habilidade. Usavam também as clavas e machados de mão; as armas eram enfeitadas com bonitas plumas. Eles não se utilizavam das armas de fogo, passaram a usar em razão da Guerra dos Bárbaros.
Das Habitações dos Tapuias
Eram nômades, paravam onde houvesse abundância de alimentos. Gostavam de viver ao ar livre. Por isso não construíam casa, levantavam alguns ramos para servir de abrigo. Eram gulosos, as reservas alimentares dentro da área duravam somente dois ou três dias. Quando partem para outros sítios tocam fogo no acampamento.
O rei era quem programava as atividades do dia e da noite. Antes de partirem, banhavam-se no rio, para espantar a moleza. Quando mudavam de acampamento, os mais fortes carregavam dois troncos de árvores. As mulheres e os meninos conduziam as armas, as bagagens e os trastes. Chegados ao local do novo acampamento, iam cortar árvores, e usavam os galhos e ramagens para fazerem sombra. As habitações dos tapuias eram toscas e feias.
Caça, Pesca e Agricultura dos Tapuias
Os tapuias levavam uma vida descuidosa. Não semeavam, não plantavam, nem se esforçavam por coisa alguma. Alimentavam-se com mel de abelhas e maribondos e com todas as imundícies da terra, como cobras e lagartos. Os tapuias armavam ciladas aos peixes e animais, utilizando seu admirável olfato e sua habilidade para comer. Alimentavam-se ainda de frutos agrestes, caça fresca, peixes, tudo sem temperos ou condimentos. Não semeavam outra coisa além da mandioca.
Para assar a carne, eles cavavam um buraco na terra e colocavam a carne, depois enterravam pondo folhas de árvores por cima e faziam uma fogueira por cima de tudo.
Para atraírem felicidade na caça e pesca, os tapuias cariris queimavam ossos de animais ou espinhas de peixes.
Os Jovens caçadores presenteavam os velhos da tribo com caças e pescarias, sem sequer comer um único pedaço. Durante o período de caça e pesca, comiam uma sopa muito rala, feita com farinha de milho ou mandioca. Depois dessa temporada, estavam magros, por razão do intenso trabalho e da alimentação inadequada.
A Língua dos Tapuias
A linguagem era um tanto mal entendida, pois era trêmula, e cantada, não se entendia nada.
Dezenas de palavras foram usadas na linguagem dos tapuias como por exemplo; carfa, caruatá, cayú, comatyn, corpamba, corraveara, cucuraí, ditre, entre outros.
As Aldeias Indígenas
Foram aldeias, que em pouco tempo foram transformadas em vilas, onde existia um chefe para governar esse vilarejo indígena, onde estabeleceu-se a forma de vida um tanto democrática entre os demais. Podemos citar alguns nomes de aldeias existentes, como: a aldeia Jacoca, Utinga, Baía da traíção, Monte Mor da preguiça, Boa Vista, Cariris, Campina Grande, Brejo, Panatis, Coremas, Aldeia dos Pegas, dos Icos pequenos, etc.
Religião dos Tapuias
A religião dos Tapuias era basicamente animista, eles adoravam as forças da natureza com o trovão, a lua, o sol, além disto, acreditavam que certos animais, como serpentes, aves e alguns mamíferos, como morcegos, praticaram sacrifícios de animais, até humanos. Os europeus aqui chegados trataram de demonizar os deuses dos Tapuias, como podemos ver na frase do cronista Morisot, "Os brasilianos só adoram o diabo, não que daí esperem um bem, mas porque o temem, e por esse motivo oferecem sacrifícios e o invocam". (30, 125).
Os Tapuias também tinham como Deus principal a Constelação da Ursa Maior, para eles um inimigo dos Tapuias o intrigou com o seu Deus, este era a raposa, a causadora de sua expulsão do paraíso. Os tapuias acreditavam na imortalidade da alma desde que a pessoa não tivesse morrido de morte matada ou de picada de serpente.
Os Tapuias não faziam nada sem antes consultar os feiticeiros e adivinhos. De um modo geral, a religião dos tapuias lembra um pouco as religiões da África, no tocante a influência forte dos feiticeiros na vida indígena. Os europeus viam nos rituais dos tapuias um comércio direto com os poderes do inferno, além disto os tapuias possuíam deuses também que regiam a agricultura, a pesca e a caça, os invocaram e sacrificaram a eles para obter boas colheitas, pesca e caça fartas. Os tapuias tinham uma lenda que falava no Deus da criação, que tinham dois filhos, o mais novo foi embora para a terra, o Deus pai enviou seu filho mais velho para buscar seu filho mais novo, mas este e seus filhos acabaram maltratando e matando o irmão mais velho, que depois de morto ficou na terra, entre seus parentes, por vários dias e somente depois ascendem ao céu, retornando para o seu pai.
Os europeus acreditavam que o Deus em quem os tapuias falavam era o Deus de Israel, o filho mais velho Jesus Cristo e o filho mais novo seria o próprio Lúcifer ou Caim.
Favor citar da seguinte forma:
OLIVEIRA, E. da S.; MORAIS, M. A de; MEDEIROS, E. D. de & MEDEIROS, M. de L. P. de. Tapuias. História do RN n@ WEB [On-line]. Available from World Wide Web:
Referências Bibliográficas
MEDEIROS FILHO, Olavo. Índios do Açu e Seridó. Brasília: Centro Gráfico do Senado Federal, 1984.


Os franceses na costa potiguar

(Por Francimar de Araújo Galvão; Josefa Emília de Macêdo; Maria Deusa dos Anjos Lima; Nilba dos Santos Medeiros – alunos do período 99.2)
Oficializado o descobrimento do Brasil, fato consolidado em 1500, pouco foi feito, em termos de colonização, nos primeiros anos do século XVI. Aos portugueses, naquele momento, interessava mais a exploração do Oriente, onde predominava o comércio das especiarias – produtos tão cobiçados na Europa da época. Por essas bandas, de comercializável, predominavam apenas as madeiras tintoriais que, ao que parece, não interessavam muito aos portugueses, naquele instante.
À espreita, rondavam os corsários franceses que, por sua vez, não contando com uma frota marítima capaz de lhes proporcionar grandes conquistas, vão aos poucos adentrando os mares, tendo penetrado na costa potiguar, lá pelos idos de 1535; um feito que enaltecera os franceses, apesar de ter sido um fato ilegal, visto que pelo Tratado de Tordesilhas essas terras pertenciam a coroa de Portugal.
A situação geográfica da região onde hoje se localiza o atual Rio Grande do Norte foi bastante favorável às incursões dos piratas e/ou corsários franceses que logo travaram grande camaradagem com os indígenas da área, tendo estabelecido o comércio e o tráfico do pau-brasil e proporcionado às mestiçagens na área dominada pelos potiguares.
Também por aquela época, a coroa portuguesa instituíra o sistema de capitanias hereditárias, tendo sido concedida a área do Rio Grande ao honrado Feitor da Casa de Mina e da Índia, João de Barros. Com o objetivo de evitar maiores dispêndios na ocupação de seu quinhão, João de Barros associa-se a dois outros donatários, que haviam sido beneficiados com lotes de terras, em regiões a Oeste do Rio Grande. Impossibilitado de participar da honrosa empreitada de ocupação de sua capitania, devido suas atividades de burocrata, Barros autoriza seus dois filhos, João e Jerônimo, a partirem para a colônia e apossarem-se das terras que, de acordo com o supremo direito concedido por El Rei D. João III, lhes pertenciam.
Ao adentrarem em "terras" potiguares, os arrojados colonizadores portugueses foram recepcionados a flechadas pelos nativos potiguares que, ajudados pelos traficantes franceses, resolveram impedir a posse dos filhos de João de Barros na capitania.
A fácil amizade firmada entre franceses e nativos potiguares deveu-se, em boa parte, ao tipo de interesse econômico, que aqueles tinham para com a terra. Os franceses buscavam apenas o comércio, sobretudo do pau-brasil e para tanto, fazia-se necessário cultivar a amizade dos nativos potiguares, de forma a obterem a mão-de-obra e os produtos desejados, sem terem que enfrentar maiores dificuldades. Ao contrário dos franceses, que desenvolveram vivência comum com os nativos potiguares por vários anos, os portugueses pretendiam fixar-se na terra, vindo a proporcionar mudanças drásticas de costumes, hábitos e crenças, através da imposição de uma nova ordem e disciplina aos indígenas.
O clima de familiaridade firmado entre franceses e potiguares foi fator preponderante para que, durante o século XVI, a área que abrangia a capitania do Rio Grande tenha sido um reduto de traficantes de madeiras tintoriais. Foi somente no final do século mencionado que os portugueses, temerosos de que os franceses viessem a consolidar a dominação da costa potiguar, decidiram-se pela ocupação definitiva da área. O empreendimento final da conquista, por parte dos portugueses, coube ao Governo Geral que, aliado a alguns colonos ricos, esperançosos de dominarem uma nova região aberta ao comércio, partiu para uma ocupação definitiva. Os objetivos iniciais da colonização do território potiguar seriam a construção de uma fortaleza militar e a edificação de uma cidade, que serviria como marcos de dominação.
O domínio do território não foi tarefa fácil, pois os potiguares continuaram hostis em relação aos portugueses, mesmo não contando mais com todo o apoio dos franceses, que ao presenciarem a armada portuguesa, picaram suas amarras deixando para trás uma capitania devastada pela exploração desenfreada de suas matas. Apesar das freqüentes hostilidades dos nativos, os portugueses consolidaram o domínio definitivo da capitania, fato que se deu nos últimos dias de 1597.
Favor citar da seguinte forma:
GALVÃO, F. de A; MACÊDO, J. E. de; LIMA, M. D. dos A. & MEDEIROS, N. dos S. Os franceses na costa potiguar. História do RN n@ WEB [On-line]. Available from World Wide Web:
Referências Bibliográficas
CASCUDO, Luiz da Câmara. História do Rio Grande do Norte. Rio de Janeiro: Departamento de imprensa Nacional, 1955.
SANTOS, Paulo Pereira dos. Evolução econômica do Rio Grande do Norte (do século XVI ao XX). Natal: Clima, 1994.

A Capitania do Rio Grande do Norte

A Capitania do Rio Grande

(Por Genilson Medeiros Maia – Aluno do período 98.2)
Capitanias hereditárias
Após três décadas da descoberta do que seria posteriormente chamado de Brasil, Portugal voltou-se para a sua ocupação e conquista, muito mais por medo de perdê-la do que por convicção de ser um bom empreendimento.
O modelo de colonização escolhido foi o de Capitanias Hereditárias, já implantado com relativo sucesso em algumas de suas possessões menores no Atlântico, próximo ao continente africano. A Colônia, então denominada de Santa Cruz, foi dividida em quinze lotes, distribuídos entre doze donatários. A concessão dava-se por meio da Carta de Doação, na qual eram definidos os limites físicos da capitania, e do Foral, no qual eram estabelecidos os direitos e deveres dos beneficiários.
A Capitania do Rio Grande
A Capitania do Rio Grande, com cem léguas, foi doada a João de Barros, feitor das Casas de Mina e da Índia, a qual foi aglutinada com cinqüenta léguas doadas a Aires da Cunha e setenta e cinco léguas doadas a Fernão Álvares de Andrade, perfazendo um total de duzentos e vinte e cinco léguas de terras, cujos limites não são muito claros, em função do desaparecimento da Carta de Doação (CASCUDO, 1984).
O fracasso das primeira tentativas
A conquista do Rio Grande não foi possível por seus donatários em virtude da bravura dos índios Potiguares e dos franceses, esses últimos aqui embrenhados, fazendo exploração clandestina. Duas tentativas de conquista foram feitas pelos seus donatários, sendo a primeira em 1535, comandada por Aires da Cunha, contando com as presenças dos filhos de João de Barros (João e Jerônimo de Barros) e um representante de Fernão Álvares e mais novecentos homens e cem cavalos, armas e munições do próprio arsenal régio, e a segunda, provavelmente em 1555, tendo à frente somente os filhos de João de Barros. As duas tentativas fracassaram e o máximo que conseguiram foi fundar um povoado na ilha do Maranhão, a que deram o nome de "Nazaré", isso durante a primeira tentativa.
A conquista definitiva
Devido a sua localização e a sua extraordinária importância para a conquista do Norte, o Rei retomou a possessão do Rio Grande mediante indenização à família de João de Barros e ordenou ao sétimo Governador Geral do Brasil (l591 - 1602) Dom Francisco de Souza, que providenciasse a expulsão dos franceses e a construção de um Forte para dar início à colonização da Capitania. O trabalho de atacar os franceses e os índios revoltosos coube, por ordem de D. Francisco de Souza, aos capitães-mores de Pernambuco e da Paraíba, Manuel de Mascarenhas Homem e Feliciano Coelho de Carvalho, respectivamente.
A vitória portuguesa
De acordo com a organização estratégica para o ataque, duas frentes foram formadas, sendo que uma avançou por mar, comandada por Mascarenhas Homem e a outra por terra, capitaneada por Feliciano Coelho. O empreendimento foi coroado com êxito e em 06 de janeiro de 1598 foi iniciada a construção do Forte dos Reis Magos, sob os cuidados do jesuíta Gaspar de Samperes e planta de sua autoria. Daí surgiu um povoado que deu origem a Natal e também a base para a conquista da região setentrional brasileira, como um todo.
Sociedade colonial
A sociedade norte-rio-grandense após a conquista pelos portugueses era composta basicamente por três grupos étnicos: os aborígenes servindo como escravos, aldeados ou revoltados, embrenhados no mato, os invasores brancos divididos em homens livres proprietários e homens livres não proprietários e os escravos negros oriundos da África. E por imposição da própria conquista era uma sociedade agrária, na qual, em torno dos homens livres proprietários, gravitavam todas as determinações do local.
Primeira atividades econômicas coloniais
As primeiras atividades econômicas da capitania são marcadamente de subsistência, ancorando-se na pecuária, na pesca e na agricultura de mantimentos. A cultura da cana-de-açúcar nunca obteve tanto avanço aqui, restringindo-se, à época dos primeiros tempos, apenas ao vale do Cunhaú e posteriormente espalhando-se por todo o litoral sul da capitania.
Paralelamente à exploração dessas atividades, fazia-se a exploração do pau-brasil, com encaminhamento direcionado à Coroa.
Em que pese a importância do pau-brasil, da cana-de-açúcar, da pesca, da agricultura etc., a atividade econômica que viabilizou a ocupação definitiva da Capitania do Rio Grande (do Norte) foi a pecuária. De modo que a esta atividade deve-se não só a ocupação mas sobretudo o seu desenvolvimento.
Favor citar da seguinte forma:
MAIA, G. (1998). A capitania do Rio Grande. História do RN n@ WEB [On-line]. Available from World Wide Web:
Referência Bibliográfica
CASCUDO, Luís da Câmara. História do Rio Grande do Norte. 2 ed. Rio de Janeiro: Achiamê; Natal: Fundação José Augusto, 1984.
SUASSUNA, Luiz Eduardo B. & MARIZ, Marlene da Silva. História do Rio Grande do Norte colonial (1597/1822). Natal: Natal Editora, 1997.

Os Potiguares

(Por Genilson Medeiros Maia – Aluno do período 98.2)
A descoberta de um novo mundo proporcionava enfrentar barreiras, vencer desafios, rumar ao desconhecido. Terra... terra farta, terra de ninguém pronta para ser desbravada, conquistada e explorada.
Mas que surpresa! Os portugueses, aqui chegando depararam-se com criaturas "de porte mediano, acima de 1,65cm, reforçados e bem feitos no físico. Olhos pequenos e amendoados como os da raça mongólica, escuros e encovados, de orelhas grandes, cabelos lisos e cortados redondos, arrancavam os pêlos da barba até as pestanas e sobrancelhas. Eram baços, claros, pintavam seus corpos com desenhos coloridos. Furavam o beiço, principalmente o inferior, assim como orelhas e o nariz". (SUASSUNA & MARIZ: 1997, p. 51).
Seus corpos nus expostos ao sol, sob o calor e maresia, demonstravam íntimo contato com a natureza selvagem e hostil. Contrastando com as cores do horizonte e na beleza exótica do lugar, os nativos observavam grandes embarcações com figuras espalhafatosas se aproximarem.
Nesse primeiro contato, os portugueses encontraram um povo que, na escala evolutiva, superava o paleolítico e dava seus primeiros passos na revolução agrícola, quanto à domesticação de plantas de condições selvagens para mantimento de seus roçados, assim como o cultivo da mandioca. Também foram cultivadas outras espécies, como: milho, batata-doce, abóbora, algodão, tabaco, cuias e cabaças, e algumas árvores frutíferas. Para seu cultivo empregavam técnicas e instrumentos rudimentares, como a queimada e a derrubada de árvores com machados de pedra.
Além da agricultura, os indígenas praticavam a caça e a pesca como fonte de alimentação, empregando armas como o arco e flecha com pontas talhadas em pedra. Da mesma forma que eram usados na guerra.
Os homens nativos integravam-se perfeitamente ao meio, mas eram agressivos quanto a outros grupos e viviam em constantes lutas por seu território e lugares sagrados, defendendo sua aldeia.
Festejaram a natureza, as estações, as luas, o sol, a chuva. Dançavam, cantavam em noites de festas, adornados com belas plumagens, em cocares, braceletes e tornozeleiras. Ficando em volta de grandes fogueiras, cultuavam seus mortos, valentes e valorosos guerreiros pedindo sua proteção, junto aos deuses.
Enquanto que os inimigos vencidos e aprisionados eram sacrificados em rituais de antropofagia.
Na cura de doenças, utilizavam de ervas e raízes extraídas da própria natureza. Assim como o uso de entorpecentes pelo Xamãs e Pajés, quando evocavam os deuses para auxiliá-los na luta contra os espíritos do mal.
Falavam o nhe-ê-Katu (língua boa), diferenciando de outros dialetos existentes nas diferentes tribos.
Utilizavam a cerâmica na fabricação de utensílios domésticos. A rede servia para o descanso e a canoa para locomoção e pesca.
Sob o olhar europeu, aqueles nativos selvagens precisavam aprender normas de conduta e suas almas necessitavam de salvação para poderem integrar-se a uma civilização. Civilização essa que desprezara sua cultura, crenças, tradições interferindo no curso de suas vidas cotidianas.
Foi de relevante importância a missão dos padres junto aos indígenas quanto à catequização, resultando em acordos de paz, ansiados por ambas as partes.
Nesta jornada destaca-se a figura de Francisco Pinto, "apóstolo da paz", que através da catequese conseguia levar os nativos para o lado dos portugueses. Assistindo-os em suas necessidades.
Entre os nativos, Felipe Camarão revela-se como grande aliado dos portugueses, juntamente com seus comandados, destacando-se na luta contra os holandeses e seus aliados.
A participação dos potiguares também é registrada na guerra dos bárbaros ou Confederação dos Cariris, em que se rivalizavam com os Tapuias. Pois não era possível essa homogeneidade entre tribos de diferentes línguas e costumes.
As rivalidades existentes entre tribos, o domínio português e a presença de negros, contribuiu para que houvesse sincretismo de culturas, onde o índio perdeu seu espaço e território. Com isso, sua história é de difícil acesso, ficando diversas indagações sobre origens e evolução cultural, pois a presença do português e da catequização contribuíram para um direcionamento na visão histórica, a partir do momento que sentiram necessidade de integrá-los ou combatê-los, de acordo com seus interesses.
Favor citar da seguinte forma:
ARAÚJO, F. das C. de S. O. ; SILVA, F. V. da; MACÊDO, M. das V. de A. & SILVA, M. E. da. Potiguares. História do RN n@ WEB [On-line]. Available from World Wide Web:
Referências Bibliográficas
RIBEIRO, Darcy. O Povo Brasileiro. A formação e o sentido do Brasil. 2a ed. 4a reimpressão. São Paulo. Companhia das Letra,s 1996.
SUASSUNA, Luiz Eduardo B; MARIZ, Marlene da Silva. História do Rio Grande do Norte Colonial (1597/1822) Natal; 1997.
Tapuias

Por Ednilda da Silva Oliveira; Maria Auricéia de Morais; Eliete Dantas de Medeiros e Maria de Lourdes Pereira de Medeiros – Alunas do período 99.2 )
Aspectos histórico-geográfico dos Tapuias
Os Tapuias, também conhecidos por "Bárbaros", habitavam, dentre outras regiões, os sertões da Capitania do Rio Grande. Dividiam-se em vários grupos nomeados de acordo com a região onde moravam – Cariris (Serra da Borborema), Tarairiou (Rio Grande e Cunhaú), Canindés (no sertão do Acauã ou Seridó). Eram chefiados por vários reis e falavam línguas diversas. Merecendo destaque os reis Janduí e Caracará.
Caracteísticas Físicas dos Tapuias
Os homens apresentavam-se corpulentos, possuidores de grande força física. A pele queimada, em tons de marrom. Usavam cabelo longo ao sabor do vento. Não costumavam usar roupas. Eram desprovidos de pêlos por todo o corpo. Apesar de andarem nus, cobriam as partes íntimas com peças feitas de materiais rudimentares, extraídos da natureza. Em contra partida, as mulheres apresentavam estrutura física pequena, mas a cor era a mesma da dos homens. Costumavam manter os cabelos curtos ou longos, de corpos rechonchudos. Também escondiam suas partes íntimas. Adornavam seu corpo com o que encontravam na natureza – Penas de aves, folhas de plantas nativas, raízes, utilizavam-se de pedaços de paus para fazerem brincos, colares e outros. Utilizavam-se de tais enfeites tanto para a prática das danças, como na preparação para a guerra.
Rituais de Vida e Morte
Os Tapuias, por vezes, atingiam aproximadamente dois séculos de vida. Quando isso acontecia eram homenageados por sua tribo. Isto quando do sexo masculino - se do sexo feminino, ao darem à luz a mais de um filho, tornavam-se cativas. Estando doentes são visitados pelos amigos e se o caso de morte, matavam-nos para que não houvesse sofrimento. A causa mais freqüente de óbito entre os Tapuias era o veneno de cobra. Eram endocanibalistas, devoravam até mesmo os de sua tribo, quando da sua morte.
A Vida Amorosa dos Tapuias
A puberdade era o período em que a donzela estaria pronta para casar-se. A virgindade era bastante valorizada. O namoro, acontecia entre danças, onde eram escolhidos os pretendentes. No noivado, o pretendente oferecia presente ao sogro. Quando a donzela não arrumava pretendente, era levada ao rei e este a possuía.
Os jovens tinham que demonstrar valor pessoal, exibindo força física. O rei aprovava a cerimônia e quando esta se realizava, furavam-se as faces dos noivos e colocavam pauzinhos. A festa durava cinco dias. Os matrimônios eram severos, apesar da poligamia, mas as cerimônias eram reservadas às primeiras esposas. Possuir várias mulheres era sinal de prestígio. O adultério era raro, e o marido expulsava a ré, depois de açoitá-la, no caso do flagrante e poderia matá-los. Sobre os tapuias cariris, eram praticantes do adultério, e era recíproco.
Da Gravidez, do Parto e das Crianças
A Índia, quando grávida, não tinha relações com o marido, também enquanto amamentava. A tapuia dava à luz nas matas, cozia o umbigo e a placenta e comia. Quando voltava ao acampamento, o filho era cuidado por outra mulher. Os maridos tinham o mesmo resguardo da parturiente. Esta se alimentavam de farinha de mandioca, milho, feijão, até o nascimento dos dentes dos lactentes. Os nascidos mortos eram devorados pelos tarairiús. As crianças começavam a andar com nove semanas e aprendiam a nadar nesta mesma época. Entre sete e oito anos eram furados o lábio inferior e as orelhas e colocados ossos e paus, depois eram batizados, ficando aptos para as lutas.
Ferocidades, Armas e Lutas dos Tapuias
Os Tapuias possuíam semblante ameaçador, corriam igual as feras, por isso eram muito temidos. Eram inconstantes, fáceis de ser levados a fazer o mal. Eram fortes, carregavam nos ombros grandes pesos. Ao irem para guerra, marchavam em silêncio, mas no embate faziam bastante alarido, jogando setas envenenadas das quais os feridos jamais escapavam.
Foram úteis, como aliados dos holandeses, conduzindo aos lugares mais difíceis. Os tapuias que se destacavam nas lutas eram considerados heróis.
O poder real não era hereditário, este era substituído quando morto. O rei distinguia-se dos outros pelos cabelos e pelas unhas. Os tapuias eram muito obedientes ao rei.
Os tapuias se enfeitavam da cabeça aos pés para as lutas. Suas armas eram as flechas, as pranchetas, arcos e dardos, que usavam com grande habilidade. Usavam também as clavas e machados de mão; as armas eram enfeitadas com bonitas plumas. Eles não se utilizavam das armas de fogo, passaram a usar em razão da Guerra dos Bárbaros.
Das Habitações dos Tapuias
Eram nômades, paravam onde houvesse abundância de alimentos. Gostavam de viver ao ar livre. Por isso não construíam casa, levantavam alguns ramos para servir de abrigo. Eram gulosos, as reservas alimentares dentro da área duravam somente dois ou três dias. Quando partem para outros sítios tocam fogo no acampamento.
O rei era quem programava as atividades do dia e da noite. Antes de partirem, banhavam-se no rio, para espantar a moleza. Quando mudavam de acampamento, os mais fortes carregavam dois troncos de árvores. As mulheres e os meninos conduziam as armas, as bagagens e os trastes. Chegados ao local do novo acampamento, iam cortar árvores, e usavam os galhos e ramagens para fazerem sombra. As habitações dos tapuias eram toscas e feias.
Caça, Pesca e Agricultura dos Tapuias
Os tapuias levavam uma vida descuidosa. Não semeavam, não plantavam, nem se esforçavam por coisa alguma. Alimentavam-se com mel de abelhas e maribondos e com todas as imundícies da terra, como cobras e lagartos. Os tapuias armavam ciladas aos peixes e animais, utilizando seu admirável olfato e sua habilidade para comer. Alimentavam-se ainda de frutos agrestes, caça fresca, peixes, tudo sem temperos ou condimentos. Não semeavam outra coisa além da mandioca.
Para assar a carne, eles cavavam um buraco na terra e colocavam a carne, depois enterravam pondo folhas de árvores por cima e faziam uma fogueira por cima de tudo.
Para atraírem felicidade na caça e pesca, os tapuias cariris queimavam ossos de animais ou espinhas de peixes.
Os Jovens caçadores presenteavam os velhos da tribo com caças e pescarias, sem sequer comer um único pedaço. Durante o período de caça e pesca, comiam uma sopa muito rala, feita com farinha de milho ou mandioca. Depois dessa temporada, estavam magros, por razão do intenso trabalho e da alimentação inadequada.
A Língua dos Tapuias
A linguagem era um tanto mal entendida, pois era trêmula, e cantada, não se entendia nada.
Dezenas de palavras foram usadas na linguagem dos tapuias como por exemplo; carfa, caruatá, cayú, comatyn, corpamba, corraveara, cucuraí, ditre, entre outros.
As Aldeias Indígenas
Foram aldeias, que em pouco tempo foram transformadas em vilas, onde existia um chefe para governar esse vilarejo indígena, onde estabeleceu-se a forma de vida um tanto democrática entre os demais. Podemos citar alguns nomes de aldeias existentes, como: a aldeia Jacoca, Utinga, Baía da traíção, Monte Mor da preguiça, Boa Vista, Cariris, Campina Grande, Brejo, Panatis, Coremas, Aldeia dos Pegas, dos Icos pequenos, etc.
Religião dos Tapuias
A religião dos Tapuias era basicamente animista, eles adoravam as forças da natureza com o trovão, a lua, o sol, além disto, acreditavam que certos animais, como serpentes, aves e alguns mamíferos, como morcegos, praticaram sacrifícios de animais, até humanos. Os europeus aqui chegados trataram de demonizar os deuses dos Tapuias, como podemos ver na frase do cronista Morisot, "Os brasilianos só adoram o diabo, não que daí esperem um bem, mas porque o temem, e por esse motivo oferecem sacrifícios e o invocam". (30, 125).
Os Tapuias também tinham como Deus principal a Constelação da Ursa Maior, para eles um inimigo dos Tapuias o intrigou com o seu Deus, este era a raposa, a causadora de sua expulsão do paraíso. Os tapuias acreditavam na imortalidade da alma desde que a pessoa não tivesse morrido de morte matada ou de picada de serpente.
Os Tapuias não faziam nada sem antes consultar os feiticeiros e adivinhos. De um modo geral, a religião dos tapuias lembra um pouco as religiões da África, no tocante a influência forte dos feiticeiros na vida indígena. Os europeus viam nos rituais dos tapuias um comércio direto com os poderes do inferno, além disto os tapuias possuíam deuses também que regiam a agricultura, a pesca e a caça, os invocaram e sacrificaram a eles para obter boas colheitas, pesca e caça fartas. Os tapuias tinham uma lenda que falava no Deus da criação, que tinham dois filhos, o mais novo foi embora para a terra, o Deus pai enviou seu filho mais velho para buscar seu filho mais novo, mas este e seus filhos acabaram maltratando e matando o irmão mais velho, que depois de morto ficou na terra, entre seus parentes, por vários dias e somente depois ascendem ao céu, retornando para o seu pai.
Os europeus acreditavam que o Deus em quem os tapuias falavam era o Deus de Israel, o filho mais velho Jesus Cristo e o filho mais novo seria o próprio Lúcifer ou Caim.
Favor citar da seguinte forma:
OLIVEIRA, E. da S.; MORAIS, M. A de; MEDEIROS, E. D. de & MEDEIROS, M. de L. P. de. Tapuias. História do RN n@ WEB [On-line]. Available from World Wide Web:
Referências Bibliográficas
MEDEIROS FILHO, Olavo. Índios do Açu e Seridó. Brasília: Centro Gráfico do Senado Federal, 1984.


Os franceses na costa potiguar

(Por Francimar de Araújo Galvão; Josefa Emília de Macêdo; Maria Deusa dos Anjos Lima; Nilba dos Santos Medeiros – alunos do período 99.2)
Oficializado o descobrimento do Brasil, fato consolidado em 1500, pouco foi feito, em termos de colonização, nos primeiros anos do século XVI. Aos portugueses, naquele momento, interessava mais a exploração do Oriente, onde predominava o comércio das especiarias – produtos tão cobiçados na Europa da época. Por essas bandas, de comercializável, predominavam apenas as madeiras tintoriais que, ao que parece, não interessavam muito aos portugueses, naquele instante.
À espreita, rondavam os corsários franceses que, por sua vez, não contando com uma frota marítima capaz de lhes proporcionar grandes conquistas, vão aos poucos adentrando os mares, tendo penetrado na costa potiguar, lá pelos idos de 1535; um feito que enaltecera os franceses, apesar de ter sido um fato ilegal, visto que pelo Tratado de Tordesilhas essas terras pertenciam a coroa de Portugal.
A situação geográfica da região onde hoje se localiza o atual Rio Grande do Norte foi bastante favorável às incursões dos piratas e/ou corsários franceses que logo travaram grande camaradagem com os indígenas da área, tendo estabelecido o comércio e o tráfico do pau-brasil e proporcionado às mestiçagens na área dominada pelos potiguares.
Também por aquela época, a coroa portuguesa instituíra o sistema de capitanias hereditárias, tendo sido concedida a área do Rio Grande ao honrado Feitor da Casa de Mina e da Índia, João de Barros. Com o objetivo de evitar maiores dispêndios na ocupação de seu quinhão, João de Barros associa-se a dois outros donatários, que haviam sido beneficiados com lotes de terras, em regiões a Oeste do Rio Grande. Impossibilitado de participar da honrosa empreitada de ocupação de sua capitania, devido suas atividades de burocrata, Barros autoriza seus dois filhos, João e Jerônimo, a partirem para a colônia e apossarem-se das terras que, de acordo com o supremo direito concedido por El Rei D. João III, lhes pertenciam.
Ao adentrarem em "terras" potiguares, os arrojados colonizadores portugueses foram recepcionados a flechadas pelos nativos potiguares que, ajudados pelos traficantes franceses, resolveram impedir a posse dos filhos de João de Barros na capitania.
A fácil amizade firmada entre franceses e nativos potiguares deveu-se, em boa parte, ao tipo de interesse econômico, que aqueles tinham para com a terra. Os franceses buscavam apenas o comércio, sobretudo do pau-brasil e para tanto, fazia-se necessário cultivar a amizade dos nativos potiguares, de forma a obterem a mão-de-obra e os produtos desejados, sem terem que enfrentar maiores dificuldades. Ao contrário dos franceses, que desenvolveram vivência comum com os nativos potiguares por vários anos, os portugueses pretendiam fixar-se na terra, vindo a proporcionar mudanças drásticas de costumes, hábitos e crenças, através da imposição de uma nova ordem e disciplina aos indígenas.
O clima de familiaridade firmado entre franceses e potiguares foi fator preponderante para que, durante o século XVI, a área que abrangia a capitania do Rio Grande tenha sido um reduto de traficantes de madeiras tintoriais. Foi somente no final do século mencionado que os portugueses, temerosos de que os franceses viessem a consolidar a dominação da costa potiguar, decidiram-se pela ocupação definitiva da área. O empreendimento final da conquista, por parte dos portugueses, coube ao Governo Geral que, aliado a alguns colonos ricos, esperançosos de dominarem uma nova região aberta ao comércio, partiu para uma ocupação definitiva. Os objetivos iniciais da colonização do território potiguar seriam a construção de uma fortaleza militar e a edificação de uma cidade, que serviria como marcos de dominação.
O domínio do território não foi tarefa fácil, pois os potiguares continuaram hostis em relação aos portugueses, mesmo não contando mais com todo o apoio dos franceses, que ao presenciarem a armada portuguesa, picaram suas amarras deixando para trás uma capitania devastada pela exploração desenfreada de suas matas. Apesar das freqüentes hostilidades dos nativos, os portugueses consolidaram o domínio definitivo da capitania, fato que se deu nos últimos dias de 1597.
Favor citar da seguinte forma:
GALVÃO, F. de A; MACÊDO, J. E. de; LIMA, M. D. dos A. & MEDEIROS, N. dos S. Os franceses na costa potiguar. História do RN n@ WEB [On-line]. Available from World Wide Web:
Referências Bibliográficas
CASCUDO, Luiz da Câmara. História do Rio Grande do Norte. Rio de Janeiro: Departamento de imprensa Nacional, 1955.
SANTOS, Paulo Pereira dos. Evolução econômica do Rio Grande do Norte (do século XVI ao XX). Natal: Clima, 1994.
Os Indios

A Origem dos povos americanos
Há 500 Anos
A chegada do europeu
O deslocamento da população
O Índio hoje
O que é ser índio
Identidade e diversidade
As línguas indígenas
Índios isolados
As Sociedades
Etnias Indígenas
Esporte dos Povos Indígenas
III Festa Nacional do Índio




A ORIGEM DOS POVOS AMERICANOS

Os habitantes do continente americano descendem de populações advindas da Ásia, sendo que os vestígios mais antigos de sua presença na América, obtidos por meio de estudos arqueológicos, datam de 11 a 12,5 mil anos. Todavia, ainda não se chegou a um consenso acerca do período em que teria havido a primeira leva migratória.
Os povos indígenas que hoje vivem na América do Sul são originários de povos caçadores que aqui se instalaram, vindo da América do Norte através do istmo do Panamá, e que ocuparam virtualmente toda a extensão do continente há milhares de anos. De lá para cá, estas populações desenvolveram diferentes modos de uso e manejo dos recursos naturais e formas de organização social distintas entre si.
Não existe consenso também, entre os arqueólogos, sobre a antigüidade da ocupação humana na América do Sul. Até há alguns anos, o ponto de vista mais aceito sobre este assunto era o de que os primeiros habitantes do continente sul-americano teriam chegado há pouco mais de 11 mil anos.
No Brasil, a presença humana está documentada no período situado entre 11 e 12 mil anos atrás. Mas novas evidências têm sido encontradas na Bahia e no Piauí que comprovariam ser mais antiga esta ocupação, com o que muitos arqueólogos não concordam. Assim, há uma tendência cada vez maior de os pesquisadores reverem essas datas, já que pesquisas recentes vêm indicando datações muito mais antigas

Topo




HÁ 500 ANOS

Há cinco séculos, os portugueses chegaram ao litoral brasileiro, dando início a um processo de migração que se estenderia até o início do século XX, e paulatinamente foram estabelecendo-se nas terras que eram ocupadas pelos povos indígenas.
O processo de colonização levou à extinção muitas sociedades indígenas que viviam no território dominado, seja pela ação das armas, seja em decorrência do contágio por doenças trazidas dos países distantes, ou, ainda, pela aplicação de políticas visando à "assimilação" dos índios à nova sociedade implantada, com forte influência européia.
Embora não se saiba exatamente quantas sociedades indígenas existiam no Brasil à época da chegada dos europeus, há estimativas sobre o número de habitantes nativos naquele tempo, que variam de 1 a 10 milhões de indivíduos.
Números que servem para dar uma idéia da imensa quantidade de pessoas e sociedades indígenas inteiras exterminadas ao longo desses 500 anos, como resultado de um processo de colonização baseado no uso da força, por meio das guerras e da política de assimilação.


Topo


A chegada do europeu
O impacto da conquista européia sobre as populações nativas das Américas foi imenso e não existem números precisos sobre a população existente à época da chegada dos europeus, apenas estimativas. As referentes à população indígena do território brasileiro em 1500 variam entre 1 e 10 milhões de habitantes.
Estima-se que só na bacia amazônica existissem 5.600.000 habitantes. Também em termos estimativos, os lingüistas têm aceito que cerca de 1.300 línguas diferentes eram faladas pelas muitas sociedades indígenas então existentes no território que corresponde aos atuais limites do Brasil.
Dezenas de milhares de pessoas morreram em conseqüência do contato direto e indireto com os europeus e as doenças por eles trazidas. Doenças hoje banais, como gripe, sarampo e coqueluche, e outras mais graves, como tuberculose e varíola, vitimaram, muitas vezes, sociedades indígenas inteiras, por não terem os índios imunidade natural a estes males.
Em face da ruptura demográfica e social promovida pela conquista européia, foi sugerido que os padrões de organização social e de manejo dos recursos naturais das populações indígenas que atualmente vivem no território brasileiro não seriam representativos dos padrões das sociedades pré-coloniais.
Esse é um ponto controvertido entre os pesquisadores, pois ainda não há dados suficientes advindos de pesquisas arqueológicas, bioantropológicas e de história indígena enfocando o impacto do contato europeu sobre as populações nativas para que se possa fazer tal afirmativa.
O atual estado de preservação das culturas e línguas indígenas é conseqüência direta da história do contato das diferentes sociedades indígenas com os europeus que dominaram o território brasileiro desde 1500. Os primeiros contatos se deram no litoral e só aos poucos houve um movimento de interiorização por parte dos europeus.


Topo


O deslocamento da população
Quando se observa o mapa da distribuição das populações indígenas no território brasileiro de hoje, podem-se ver claramente os reflexos do movimento de expansão político-econômica ocorrido historicamente.
Os povos que habitavam a costa leste, na maioria falantes de línguas do Tronco Tupi, foram dizimados, dominados ou refugiaram-se nas terras interioranas para evitar o contato.
Hoje, somente os Fulniô (de Pernambuco), os Maxakali (de Minas Gerais) e os Xokleng (de Santa Catarina) conservam suas línguas. Curiosamente, suas línguas não são Tupi, mas pertencentes a três famílias diferentes ligadas ao Tronco Macro-Jê.
Os Guarani, que vivem em diversos estados do Sul e Sudeste brasileiro e que também conservam a sua língua, migraram do Oeste em direção ao litoral em anos relativamente recentes.
As demais sociedades indígenas que vivem no Nordeste e Sudeste do País perderam suas línguas e só falam o português, mantendo apenas, em alguns casos, palavras esparsas, utilizadas em rituais e outras expressões culturais.
A maior parte das sociedades indígenas que conseguiram preservar suas línguas vive, atualmente, no Norte, Centro-Oeste e Sul do Brasil. Nas outras regiões, elas foram sendo expulsas à medida em que a urbanização avançava.

Topo




O ÍNDIO HOJE

Hoje, no Brasil, vivem cerca de 460 mil índios, distribuídos entre 225 sociedades indígenas, que perfazem cerca de 0,25% da população brasileira. Cabe esclarecer que este dado populacional considera tão-somente aqueles indígenas que vivem em aldeias, havendo estimativas de que, além destes, há entre 100 e 190 mil vivendo fora das terras indígenas, inclusive em áreas urbanas. Há também 63 referências de índios ainda não-contatados, além de existirem grupos que estão requerendo o reconhecimento de sua condição indígena junto ao órgão federal indigenista.


Topo


O que é ser índio
Os habitantes das Américas foram chamados de índios pelos europeus que aqui chegaram. Uma denominação genérica, provocada pela primeira impressão que eles tiveram de haverem chegado às Índias.
Mesmo depois de descobrir que não estavam na Ásia, e sim em um continente até então desconhecido, os europeus continuaram a chamá-los assim, ignorando propositalmente as diferenças lingüístico-culturais. Era mais fácil tornar os nativos todos iguais, tratá-los de forma homogênea, já que o objetivo era um só: o domínio político, econômico e religioso.

Se no Período Colonial era assim, ao longo dos tempos, definir quem era índio ou não constituiu sempre uma questão legal. Desde a independência em relação às metrópoles européias, vários países americanos estabeleceram diferentes legislações em relação aos índios e foram criadas instituições oficiais para cuidar dos assuntos a eles relacionados.
Nas últimas décadas, o critério da auto-identificação étnica vem sendo o mais amplamente aceito pelos estudiosos da temática indígena. Na década de 50, o antropólogo brasileiro Darcy Ribeiro baseou-se na definição elaborada pelos participantes do II Congresso Indigenista Interamericano, no Peru, em 1949, para assim definir, no texto "Culturas e línguas indígenas do Brasil", o indígena como: "(...) aquela parcela da população brasileira que apresenta problemas de inadaptação à sociedade brasileira, motivados pela conservação de costumes, hábitos ou meras lealdades que a vinculam a uma tradição pré-colombiana. Ou, ainda mais amplamente: índio é todo o indivíduo reconhecido como membro por uma comunidade pré-colombiana que se identifica etnicamente diversa da nacional e é considerada indígena pela população brasileira com quem está em contato".
Uma definição muito semelhante foi adotada pelo Estatuto do Índio (Lei nº. 6.001, de 19.12.1973), que norteou as relações do Estado brasileiro com as populações indígenas até a promulgação da Constituição de 1988.
Em suma, um grupo de pessoas pode ser considerado indígena ou não se estas pessoas se considerarem indígenas, ou se assim forem consideradas pela população que as cerca. Mesmo sendo o critério mais utilizado, ele tem sido colocado em discussão, já que muitas vezes são interesses de ordem política que levam à adoção de tal definição, da mesma forma que acontecia há 500 anos.


Topo


Identidade e diversidade
As populações indígenas são vistas pela sociedade brasileira ora de forma preconceituosa, ora de forma idealizada. O preconceito parte, muito mais, daqueles que convivem diretamente com os índios: as populações rurais.
Dominadas política, ideológica e economicamente por elites municipais com fortes interesses nas terras dos índios e em seus recursos ambientais, tais como madeira e minérios, muitas vezes as populações rurais necessitam disputar as escassas oportunidades de sobrevivência em sua região com membros de sociedades indígenas que aí vivem. Por isso, utilizam estereótipos, chamando-os de "ladrões", "traiçoeiros", "preguiçosos" e "beberrões", enfim, de tudo que possa desqualificá-los. Procuram justificar, desta forma, todo tipo de ação contra os índios e a invasão de seus territórios.
Já a população urbana, que vive distanciada das áreas indígenas, tende a ter deles uma imagem favorável, embora os veja como algo muito remoto. Os índios são considerados a partir de um conjunto de imagens e crenças amplamente disseminadas pelo senso comum: eles são os donos da terra e seus primeiros habitantes, aqueles que sabem conviver com a natureza sem depredá-la. São também vistos como parte do passado e, portanto, como estando em processo de desaparecimento, muito embora, como provam os dados, nas três últimas décadas tenha se constatado o crescimento da população indígena.
Só recentemente os diferentes segmentos da sociedade brasileira estão se conscientizando de que os índios são seus contemporâneos. Eles vivem no mesmo país, participam da elaboração de leis, elegem candidatos e compartilham problemas semelhantes, como as conseqüências da poluição ambiental e das diretrizes e ações do governo nas áreas da política, economia, saúde, educação e administração pública em geral. Hoje, há um movimento de busca de informações atualizadas e confiáveis sobre os índios, um interesse em saber, afinal, quem são eles.
Qualquer grupo social humano elabora e constitui um universo completo de conhecimentos integrados, com fortes ligações com o meio em que vive e se desenvolve. Entendendo cultura como o conjunto de respostas que uma determinada sociedade humana dá às experiências por ela vividas e aos desafios que encontra ao longo do tempo, percebe-se o quanto as diferentes culturas são dinâmicas e estão em contínuo processo de transformação.
O Brasil possui uma imensa diversidade étnica e lingüística, estando entre as maiores do mundo. São 215 sociedades indígenas, mais cerca de 55 grupos de índios isolados, sobre os quais ainda não há informações objetivas. 180 línguas, pelo menos, são faladas pelos membros destas sociedades, as quais pertencem a mais de 30 famílias lingüísticas diferentes.
No entanto, é importante frisar que as variadas culturas das sociedades indígenas modificam-se constantemente e reelaboram-se com o passar do tempo, como a cultura de qualquer outra sociedade humana. E é preciso considerar que isto aconteceria mesmo que não houvesse ocorrido o contato com as sociedades de origem européia e africana.
No que diz respeito à identidade étnica, as mudanças ocorridas em várias sociedades indígenas, como o fato de falarem português, vestirem roupas iguais às dos outros membros da sociedade nacional com que estão em contato, utilizarem modernas tecnologias (como câmeras de vídeo, máquinas fotográficas e aparelhos de fax), não fazem com que percam sua identidade étnica e deixem de ser indígenas.
A diversidade cultural pode ser enfocada tanto sob o ponto de vista das diferenças existentes entre as sociedades indígenas e as não-indígenas, quanto sob o ponto de vista das diferenças entre as muitas sociedades indígenas que vivem no Brasil. Mas está sempre relacionada ao contato entre realidades socioculturais diferentes e à necessidade de convívio entre elas, especialmente num país pluriétnico, como é o caso do Brasil.
É necessário reconhecer e valorizar a identidade étnica específica de cada uma das sociedades indígenas em particular, compreender suas línguas e suas formas tradicionais de organização social, de ocupação da terra e de uso dos recursos naturais. Isto significa o respeito pelos direitos coletivos especiais de cada uma delas e a busca do convívio pacífico, por meio de um intercâmbio cultural, com as diferentes etnias.


Topo


As línguas indígenas
A língua é o meio básico de organização da experiência e do conhecimento humanos. Quando falamos em língua, falamos também da cultura e da história de um povo. Por meio da língua, podemos conhecer todo um universo cultural, ou seja, o conjunto de respostas que um povo dá às experiências por ele vividas e aos desafios que encontra ao longo do tempo.
Há várias maneiras de se classificar as línguas. Os lingüistas atuais consideram como mais apropriada a classificação do tipo genético. Eles só recorrem a outros tipos de classificação quando não há dados suficientes para realizar a classificação por meio do critério genético.
Na classificação genética, reúnem-se numa mesma classe as línguas que tenham tido origem comum numa outra língua mais antiga, já extinta. Desta forma, as línguas faladas pelos diversos povos da Terra são agrupadas em famílias lingüísticas, e estas famílias são reunidas em troncos lingüísticos, sempre buscando a origem comum numa língua anterior.
Embora o português seja a língua oficial no Brasil, deve haver por volta de outras 200 línguas faladas regularmente por segmentos da população. Um exemplo são os descendentes de imigrantes italianos, japoneses etc., que em determinados contextos falam a língua materna.
Ainda hoje, muitos índios falam unicamente sua língua, desconhecendo o português. Outros tantos falam o português como sua segunda língua. O lingüista brasileiro Aryon Dall'Igna Rodrigues estabeleceu uma classificação das línguas indígenas faladas no Brasil, sendo esta a mais utilizada pela comunidade científica que se dedica aos estudos pertinentes às populações indígenas.
As línguas são agrupadas em famílias, classificadas como pertencentes aos troncos Tupi, Macro-Jê e Aruak. Há Famílias, entretanto, que não puderam ser identificadas como relacionadas a nenhum destes troncos. São elas: Karib, Pano, Maku, Yanoama, Mura, Tukano, Katukina, Txapakura, Nambikwara e Guaikuru.
Além disso, outras línguas não puderam ser classificadas pelos lingüistas dentro de nenhuma família, permanecendo não-classificadas ou isoladas, como a língua falada pelos Tükúna, a língua dos Trumái, a dos Irântxe etc.
Ainda existem as línguas que se subdividem em diferentes dialetos, como, por exemplo, os falados pelos Krikatí, Ramkokamekrá (Canela), Apinayé, Krahó, Gavião (do Pará), Pükobyê e Apaniekrá (Canela), que são, todos, dialetos diferentes da língua Timbira.
Há sociedades indígenas que, por viverem em contato com a sociedade brasileira há muito tempo, acabaram por perder sua língua original e por falar somente o português. De algumas dessas línguas não mais faladas ficaram registros de grupos de vocábulos e informações esparsas, que nem sempre permitem aos lingüistas suficiente conhecimento para classificá-las em alguma família. De algumas outras línguas, não ficaram nem resquícios.
Estima-se que cerca de 1.300 línguas indígenas diferentes eram faladas no Brasil há 500 anos. Hoje são 180, número que exclui aquelas faladas pelos índios isolados, uma vez que eles não estão em contato com a sociedade brasileira e suas línguas ainda não puderam ser estudadas e conhecidas.
Ressalte-se que o fato de duas sociedades indígenas falarem línguas pertencentes a uma mesma família não faz com que seus membros consigam entender-se mutuamente. Um exemplo disso se dá entre o português e o francês: ambas são línguas românicas ou neolatinas, mas os falantes das duas línguas não se entendem, apesar das muitas semelhanças lingüísticas existentes entre ambas.
É importante lembrar que o desaparecimento de tantas línguas representa uma enorme perda para a humanidade, pois cada uma delas expressa todo um universo cultural, uma vasta gama de conhecimentos, uma forma única de se encarar a vida e o mundo.


Topo


Índios isolados
Alguns povos indígenas, desde a época do Descobrimento, mantiveram-se afastados de todas as transformações ocorridas no País. Eles mantêm as tradições culturais de seus antepassados e sobrevivem da caça, pesca, coleta e agricultura incipiente, isolados do convívio com a sociedade nacional e com outros grupos indígenas.
Os índios isolados defendem bravamente seu território e, quando não podem mais sustentar o enfrentamento com os invasores de seus domínios, recuam para regiões mais distantes, na esperança de lograrem sobreviver escondendo-se para sempre.
Pouca ou nenhuma informação se tem sobre eles e, por isso, sua língua é desconhecida. Entretanto, sabe-se que alguns fatores são fundamentais para possibilitar a existência futura desses grupos. Entre eles, a demarcação das terras onde vivem e a proteção ao meio ambiente, de forma a garantir sua sobrevivência física e cultural.
No processo de ocupação dos espaços amazônicos, o conhecimento e o dimensionamento das regiões habitadas por índios isolados são fundamentais para que se possa evitar o confronto e a destruição desses grupos.
Há na FUNAI, desde 1987, uma unidade destinada a tratar da localização e proteção dos índios isolados, cuja atuação se dá por meio de sete equipes, denominadas Frentes de Contato, atuando nos estados do Amazonas, Pará, Acre, Mato Grosso, Rondônia e Goiás.

Topo


AS SOCIEDADES
Os índios sobrevivem. Não apenas biologicamente, mas também do ponto de vista das tradições culturais, segundo comprovam estudos recentes, os quais demonstram que a população indígena vem aumentando rapidamente nas últimas décadas. Hoje, as 215 diferentes sociedades somam cerca de 358 mil pessoas, que falam 180 línguas distintas. Os índios vivem nos mais diversos pontos do território brasileiro e representam, em termos demográficos, um pequeno percentual da população de 150 milhões de habitantes do Brasil. Todavia são um exemplo concreto e significativo da grande diversidade cultural existente no País.
Os seus antepassados contribuíram com muitos aspectos de suas diversificadas culturas para a formação do que atualmente se chama Brasil: um país de vasta extensão territorial, cuja população é formada pelos descendentes de europeus, negros, índios e, mais recentemente, também de imigrantes vindos de países asiáticos, que mesclaram suas diferentes línguas, religiões e tradições culturais em geral, propiciando a formação de uma nova cultura, fortemente marcada por contrastes.
Mais da metade da população indígena está localizada nas regiões Norte e Centro-Oeste do Brasil, principalmente na área da Amazônia Legal. Mas há índios vivendo em todas as regiões brasileiras, em maior ou menor número, com exceção dos estados do Piauí e Rio Grande do Norte.
Mesmo no Piauí, existem grupos de pessoas que vivem no interior do estado as quais vêm se auto-identificando como indígenas e começam a reivindicar o reconhecimento como indígenas junto à FUNAI.
Muitos dos nomes usados para designar as sociedades indígenas que vivem no Brasil não são autodenominações destas sociedades. Foram imensas as dificuldades de comunicação entre os europeus e os nativos da terra, bem como, muito mais tarde, entre os funcionários do órgão indigenista oficial e mesmo entre os antropólogos e os índios, motivadas pelo não-entendimento das línguas faladas.
Assim sendo, é comum que uma sociedade indígena seja conhecida por uma denominação que lhe foi atribuída aleatoriamente pelos primeiros indivíduos que entraram em contato com ela ou pela denominação dada pelos inimigos tradicionais. Ela é quase sempre pejorativa. E há, ainda, sociedades que receberam nomes diferentes em épocas diversas.
Portanto, a mesma sociedade indígena pode ser conhecida por vários nomes e eles nem sempre são escritos da mesma forma. Isto depende de convenção feita pelos não-índios, uma vez que os falantes originais das línguas indígenas eram ágrafos, isto é, não conheciam a escrita.
Existe uma "Convenção para a grafia dos nomes tribais" estabelecida pela Associação Brasileira de Antropologia (ABA) em 1953. Embora muitos aspectos desta convenção sejam respeitados pelos antropólogos até hoje, há outros aspectos que nunca foram seguidos.
Topo


Jogos dos Povos Indígenas

"O importante não é competir, e sim, celebrar"
Em sua sabedoria milenar, a cultura indígena valoriza muito o celebrar. Suas festas são manifestações alegres de amor à vida e a natureza. Têm como referência em suas tradições a espiritualidade, que é a dimensão da vida criada por um ser superior, tendo nos elementos da natureza - árvores, pássaros, animais, rios, lagos, matas - a grandeza da vida.

Essa tradição não tem sentido de coisa passada e sim na busca da memória, que é transmitida e atualizada de geração a geração, respeitando-se assim esses valores, adquirindo o dom da partilha em comemorar uns com os outros, vivendo a gratuidade do festejar.

Com a chegada da "nova civilização", as comunidades indígenas criaram outros mecanismos políticos, sociais e econômicos. Foi desse contexto que nasceu a idéia da criação dos Jogos dos Povos Indígenas, um segmento que nunca fora antes pensado, cuja função e objetivos ganham cada vez mais o caráter de composição da grande família. Todos participam, promovendo a integração entre as diferentes tribos com sua cultura e esportes tradicionais.

Nasce um novo conceito de se fazer, conhecer e se estabelecer uma relação de igualdade com a sociedade envolvente. Somente o esporte possibilitará esse momento de respeito às diferenças e de promover a diversidade cultural étnica que caracteriza os indígenas brasileiros.
Carlos Justino Terena


VI Jogos Indígenas
Últimas Notícias dos VI Jogos Indígenas
Histórico

Jogos Anteriores
I Jogos Indígenas
II Jogos Indígenas
III Jogos Indígenas
IV Jogos Indígenas
V Jogos Indígenas
VI Jogos Indígenas

Fatos Curiosos dos Jogos


Realização:



Secretaria Nacional de Esporte





Curiosidades

Nos I Jogos, em Goiânia, GO, em outubro de 1996, não havia ainda um formato para desenvolver o evento. Estabeleceram o critério de "premiação" com entrega de medalhas para cada prova, no pódio, construído no estilo olímpico. No primeiro dia de competição, na modalidade de atletismo, realizada pela manhã, os "ganhadores" foram chamados pelo alto-falante para receberem as medalhas, mas ninguém compareceu. Depois de chamarem muito os vencedores compareceram. Os coordenadores de prova foram procurá-los, e levaram ao pódio, mas o ônibus que levaria as delegações até o local do almoço também chegou, e os atletas ganhadores de medalha foram correndo para o ônibus, sem dar nenhuma importância para a premiação.

Nos primeiros jogos, ainda como experimento, a natação foi realizada na piscina olímpica, e muitos atletas indígenas nadaram apenas de cueca, por não terem roupa adequada, e sentiram-se bastante à vontade. Também nos Jogos em Goiânia, o juiz explicava às corredoras da prova de 100 m rasos como seria disputada a modalidade. Entre as competidoras havia uma representante dos Kanela que não prestava a devida atenção às explanações. Ao observar esse comportamento um dos coordenadores chamou-a num canto e perguntou se estava entendendo. Não obteve resposta e o representante da coordenação concluiu que ela não entendia bem o Português. Por gestos e falando pausadamente, ele explicou como seria a disputa. Por fim ela disse que havia compreendido. Foi dada a largada, mas a atleta Kanela não acompanhou as outras e ficou olhando para o coordenador, que indicou gestualmente que ela deveria partir. Momentos após a largada ela partiu, alcançando e ultrapassando em pouco tempo as demais competidoras. Quando alcançou a linha de chegada, havia uma corda, que deveria ser tocada pela atleta vencedora. Mas a indígena não tocou na corda, passou por baixo da corda e continuou correndo.

Numa partida de futebol masculino nos I Jogos, as equipes dos Kanela e Xingu, disputaram uma jogada praticamente em cima da linha que delimita a entrada do gol. Um dos atletas através de gesto ao juiz reclamou que a bola havia entrado, porém o goleiro chamou esse atleta, mostrando e colocando a bola quase em cima da linha demarcatória, embaixo das traves. O atleta atacante olhou e balançou a cabeça confirmando que realmente a bola não havia entrado. O atacante poderia ter chutado a bola para dentro do gol, o que seria válido pois a bola estava em jogo, mas não o fez. Nas partidas de futebol disputada nos Jogos a comunicação entre os atletas da mesma equipe é praticamente inexistente, não há gritaria nem xingamento com os companheiros, muito menos com os adversários pelo fato de não falarem a mesma língua. Sempre existem entradas duras, como em qualquer partida de futebol, mas as reclamações são raras.

As canoas usadas nos Jogos são emprestadas pelo povo Erikbatsa, indígenas conhecidos como canoeiros, pois o modelo de "fabricação" das canoas é de fácil adaptação a todos os atletas indígenas participantes dessa modalidade. Não é viável para todas as etnias levarem as suas próprias canoas, pois elas não possuem um padrão definido para essa competição. Os tipos de madeira diferem por etnia, bem como o modelo e sua finalidade na fabricação. A distribuição das canoas é feita por sorteio. Na prova de canoagem, realizada no Rio Paraguai, durante os II Jogos no Centro Náutico Marinas, em Guaíra, PR, foram disputadas quatro baterias, por haver apenas quatro canoas que foram sorteadas entre os atletas. O povo Matis do Amazonas, contatado há apenas 15 anos, saía pela primeira vez de sua aldeia e para participar da prova de canoagem, escolhendo uma das canoas. Porém como havia o sorteio o coordenador indígena chamou os demais atletas de outras equipes e fez a solicitação de que somente os Matis não participassem do sorteio e escolhessem uma canoa. Não houve restrição e os Matis participaram da prova com a canoa escolhida.

Durante os III Jogos dos Povos Indígenas, em Marabá, PA, os atletas Xicrin e Xavante estavam em uma disputa acirrada de cabo-de-guerra, que era assistida com grande entusiasmo pelas mulheres Xicrin, que com gestos e gritos em seu dialeto, torciam freneticamente por seus atletas. Os Xicrin, não suportando a força dos Xavante, foram ficando em desvantagem e cada vez mais próximos da derrota. E as mulheres bradavam energicamente, ordenando força. Apesar disso, os Xicrin acabaram cedendo e caíram ao chão. Nesse momento, as mulheres, que estavam torcendo com muito entusiasmo, passaram a reprimir seus atletas, jogando areia nos rostos dos índios perdedores. Eles aceitaram a "punição" sem revidar. Na cultura Xicrin, quando os homens não levam quantidades satisfatórias de caça para a aldeia, recebem o mesmo "castigo", o que demonstra um certo desprezo.

Todos os povos indígenas que possuem em suas tradições a corrida de tora têm um detalhe em comum, que é deixar as toras submersas no rio, após o corte e a preparação do buriti, para que absorvam mais liquido e se tornem mais pesadas. Nos III Jogos, em Marabá, PA, outubro de 2000, toda a estrutura fora montada na Ilha da Praia do Tucunaré. Para se chegar ao local, teria que fazer uma travessia de mais de 2000 m em barco à motor, em aproximadamente 6 min, pois há uma forte corredeira. Na chegada da delegação dos Erikbatsa, pela manhã, na beira da praia, foram desembarcando imediatamente suas canoas do ônibus, pois esse material ele trazem para serem usados na competição de canoagem, colocando grande parte de suas bagagens nas canoas e iniciando a travessia. Enquanto isso, lá da ilha, o capitão da marinha naval e um dos coordenadores dos jogos, preocupado gritava pelo rádio para que um barco maior fosse ao encontro e socorro das cinco canoinhas, que desapareciam nas fortes ondas do rio Tocantins. Mas o coordenador indígena replicou para que os mesmos ficassem tranqüilos, pois não é à toa que os Erikbatsa são também conhecidos como grandes canoeiros. Assim eles chegaram remando em rumo reto e não em diagonal como os barcos à motor daquele região fazem costumeiramente, e desembarcaram nas Praias do Tucunaré são e salvos.

Na edição dos IV Jogos, em Campo Grande, MS, em outubro de 2001, os Pareci de Tangará da Serra, MT, realizariam mais uma apresentação do Xikunahity, e quando da preparação para esse esporte, os Povos Enawê Nawê, praticamente isolados que e nunca haviam saído de suas aldeias, assistiram ao treino e disseram à coordenação que também praticavam esse esporte. Foi então realizada o primeiro encontro histórico, e uma partida dessa modalidade entre esses povos que não se conheciam.

Carlos Terena